#Notícias | 21/01/2016
Atividade autogestionária do Fórum Social Temático, a oficina “Violência Sexista no Mercado de Trabalho” debateu alternativas de enfrentamento a uma das maiores preocupações das trabalhadoras brasileiras: a violência majoritariamente praticada por homens não só no local de trabalho, mas em casa e outros locais públicos. “Essa violência é praticada pelo simples fato de a pessoa ter nascido mulher”, resumiu Juneia Batista, secretária Nacional da Mulher Trabalhadora da CUTe coordenadora do evento.
A oficina foi realizada na tarde de ontem, 20 de janeiro, na unidade porto-alegrense da Ulbra – Universidade Luterana do Brasil – e contou com aproximadamente 40 pessoas – a maioria mulheres – que se revezaram falando da militância travada contra a violência sexista a partir das entidades que representam, citando casos de violência e sugerindo alternativas de combate à violência contra a mulher. Entre os participantes estavam dirigentes sindicais metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, Antonio Munari, Marcia Soares e Gilmar de Jesus.
Segundo Juneia, a violência se dá de várias formas, desde a exigência de ser “multifunção” nos setores de produção das fábricas, o fato de receber cerca de 30% menos que os homens para realizar o mesmo trabalho, o desequilíbrio de poder (funções de comando na mão dos homens), normas muito rígidas de controle da mulher no ambiente de trabalho (contagem do tempo de ida ao banheiro) e preconceito (idade e número de filhos, por exemplo, implica restrições na contratação das mulheres). Juneia lembra que as mulheres também sofrem violência sexista fora dos ambientes de trabalho, ou seja, nas ruas, nas paradas de ônibus, dentro dos transportes coletivos. Muitas mulheres ainda sofrem assédio sexual por parte de colegas de trabalho e de chefias, que usam o poder para assediá-las. “Os sindicatos têm obrigação de ser parceiros na luta contra a violência e a discriminação contra as mulheres nos locais de trabalho, denunciando e combatendo os casos de assédio moral e sexual”, disse.
Antonio Munari falou do empenho do sindicato dos metalúrgicos de incluir na pauta de lutas e na convenção coletiva itens de enfrentamento à violência física, moral, psíquica e sexual contra as mulheres. Falou que a entidade respeita a decisão de buscar a paridade nas direções, mas isso não tem sido possível porque, na categoria, o número de mulheres é bem menor – cerca de 20% do total – e a participação delas nas lutas e assembléias é bastante reduzida. Para ele e para Gilmar de Jesus, que também citou casos em que as próprias mulheres em cargos importantes reproduzem o machismo comum nas fábricas, as mulheres precisam ser mais unidas e solidárias.
Para a advogada Beatriz da Rosa Vasconcelos, colaboradora da Thêmis – Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, é preciso haver mais união e solidariedade entre as mulheres vítimas e não vítimas de casos de violência física e sexual e maior empenho dos órgãos do Estado. Citou o caso de um juiz que decretou prisão preventiva de um agressor não pelo fato de ele ter agredido e fosse reincidente nas agressões, mas sim pelo fato de ter desobedecido a justiça. Ou seja, a mulher e seus direitos ficaram mais uma vez em segundo plano. Para ela, são inclusive culturais as causas das violências contra as mulheres. A sociedade é machista e, desde pequenas, as mulheres são instadas a cumprir papéis secundários e de subserviência. E esta desvalorização acaba comprometendo toda a vida destas mulheres.
As experiências e idéias abordadas na oficina servirão de subsídio para elaboração de propostas visando o enfrentamento das situações de violência vividas pelas mulheres não só nos locais de trabalho, mas também em casa, nas ruas e em outros locais públicos e de convivência.