#Destaques | 08/08/2016
Entre os dias 27 e 29 de julho, a entidade sindical que representa os patrões distribuiu carta endereçada aos RHs das empresas para impor as regras de reajuste salarial não aprovadas pela nossa categoria. A carta teve como outros objetivos pedir a união e coesão das empresas, apontando considerações e juízos de valor que não condizem com a justiça e a verdade.
Antes de impor insegurança jurídica às empresas associadas, induzindo os RHs a adotar a proposta rejeitada e recomendando sobre como deveriam ser feitas as anotações e registros dos reajustes, o sindicato patronal – a pretexto de informar deliberações supostamente tomadas em assembleia de empresas associadas – afirmou que tal proposta teria sido feita pelo nosso sindicato e que nossa entidade teria frustrado conciliação na reunião de mediação realizada no TRT por ser inflexível. Também falou de supostos “humores políticos” que tornam a representação do sindicato dos trabalhadores “fraca e insegura”, possivelmente porque esta não teria conseguido aprovar a última proposta na assembleia geral do dia 20 de julho, quando foi decretado o estado de greve na categoria. No final, a carta fala na possibilidade de que o bom senso prevaleça para afastar comportamentos calcados apenas no interesse político de nossos dirigentes.
Diante disso, nosso sindicato quer esclarecer alguns fatos, contestar os argumentos patronais, enfim, fazer o contraponto à deselegante carta.
PROPOSTA É PATRONAL, SIM
Esta última proposta de reajuste não foi feita pelo nosso sindicato à bancada patronal. É bem possível que tenha, na melhor das hipóteses, havido um erro de interpretação por parte dos representantes patronais. Os representantes de nosso sindicato disseram que, seguindo o princípio da razoabilidade e considerando o argumento de que tal proposta seria derradeira, levariam esta proposta para apreciação da assembleia geral, que é soberana e, obviamente, poderia aprová-la ou rejeitá-la, conforme previa o edital de convocação que, aliás, também deixava clara a possibilidade de aprovação de estado de greve, caso a proposta fosse rejeitada.
A direção do sindicato patronal sabe muito bem que nossa direção – antes de se posicionar oficialmente – consulta as lideranças nas fábricas para saber o sentimento da categoria diante das propostas.
SINDICATO NÃO FOI INFLEXÍVEL
Não houve inflexibilidade do nosso sindicato na reunião de mediação realizada no TRT. Na ocasião, o nosso sindicato apenas cumpriu a decisão soberana da assembleia de não aceitar acordo sem que outra proposta melhor fosse consensuada.
Por ter sido do sindicato patronal a iniciativa de ir ao tribunal, se esperava que apresentassem algum avanço em suas propostas, o que não aconteceu. Portanto, a inflexibilidade está do lado patronal.
SINDICATO É DEMOCRÁTICO
Não há “humores políticos” atingindo o sindicato, tornando a representação “fraca e insegura”, como afirmam os patrões. O que eles não aceitam é o comportamento democrático e transparente da entidade, que sempre submete à categoria as principais decisões, especialmente no que diz respeito ao fechamento de acordos.
Cabe salientar que posições divergentes são comuns em quaisquer entidades sindicais. Basta ver que muitos empresários – desconsiderando a negociação feita por sua entidade sindical – resolveram conceder reajustes salariais inclusive melhores que a nossa pedida (9,83%, que é a reposição inflacionária). Este, aliás, foi o motivo pelo qual, na carta, a entidade sindical patronal pede para a categoria econômica se manter “unida e coesa”. Nem por isso entendemos que a direção do Simecan é “fraca e insegura”.
IMPOSIÇÃO GOELA A BAIXO
Para nós, a carta orientando as empresas a adotarem a proposta supostamente “ajustada na mesa de negociação” nada mais é do que a imposição antidemocrática do sindicato patronal. No linguajar dos trabalhadores do chão das fábricas, a entidade tenta “enfiar goela a baixo” o reajuste não aprovado na assembleia de trabalhadores, desrespeitando o conjunto dos trabalhadores e trabalhadoras que compõem a categoria metalúrgica da base de Canoas e Nova Santa Rita.
BOM SENSO DE QUEM?
A carta do sindicato patronal roga para que a categoria econômica (empresas) se mantenha unida e coesa para que se “prevaleça o bom senso”.
Bom senso de quem? Arrochar salários, reajustando-os abaixo da inflação, é ter bom senso? Impossibilitar que os trabalhadores que foram mantidos após onda de demissões lutem para garantir o poder de compra mínimo de seus salários, contribuindo para reativar o círculo virtuoso de uma economia que está em crise, é ter bom senso?
COMPORTAMENTOS HONESTOS
O sindicato patronal termina a carta falando da importância de se afastar “comportamentos de lideranças sindicais calcados apenas no interesse político, sem levar em conta a perda de conquistas da categoria profissional”.
Obviamente, lutar pelos interesses da categoria e lutar para que a decisão soberana da assembleia geral seja respeitada são interesses políticos e legítimos! No entanto, a preocupação maior de nossos dirigentes sindicais enquanto lideranças políticas é quanto aos interesses econômicos dos trabalhadores e trabalhadoras.
SEM HESITAR
Nosso sindicato e nossa categoria sempre tiveram claras a crise econômica – que certamente não foi gerada pela classe trabalhadora – e as dificuldades enfrentadas por boa parte das empresas. Diante disto não hesitaram em contrariar uma minoria de companheiros que entendiam ser possível manter a tradição de reivindicar aumentos reais, o que seria justo, inclusive para repor perdas adicionais por conta do aumento de impostos do Governo Sartori, que a classe empresarial apóia e calou-se quando o ICMS de vários produtos e serviços subiram até 7%.
Também não hesitaram em estabelecer como reivindicação salarial apenas o básico, reivindicar as perdas oficiais medidas pelo INPC, enfim, a reposição daquilo que a inflação “comeu” dos salários da categoria entre maio/2015 e abril/2016. Neste caso, a prevalência do bom senso deve ser pedida à classe patronal metalúrgica de Canoas e Nova Santa Rita.
Fonte: STIMMMEC