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#Destaques | 20/01/2017

No jornal Valor Econômico na última quarta-feira (18), foi publicada matéria com a opinião do presidente da CUT, Vagner Freitas, sobre a difícil conjuntura que o Brasil passa, com destaque sobre as principais reformas que estão sendo promovidas pelo governo do presidente da República sem voto.  A entrevista aconteceu na semana passada e o título publicado não corresponde aos principais pontos da conversa, especialmente no que se refere à Previdência Social, cuja ênfase deveria ter sido que “Nunca uma proposta foi tão mobilizadora contra o governo Temer”, como a de acabar com a Previdência.

 

Segue abaixo a íntegra da entrevista.

 

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, disse em entrevista ao Valor que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “não tem o direito de descansar” neste momento em que a esquerda precisa de sua candidatura. Um dos aliados mais próximos a Lula, Freitas admite que a conjuntura é “difícil” e não será fácil a esquerda retornar ao poder. Mesmo assim, argumenta que é preciso ter um candidato forte pelo menos para fazer o debate político.

 

presida cut

Foto / Roberto Parizzoti

 

 

Freitas afirma que a CUT – que representa 33,6% dos trabalhadores sindicalizados – continuará pedindo a “renúncia” do presidente Michel Temer e definirá, no fim do mês, nova agenda de mobilizações contra as reformas da Previdência Social e trabalhista. No entanto, ele reconhece que a central até hoje não conseguiu mobilizar os trabalhadores, “organizadamente”, nas ruas pelo “Fora, Temer”.

O presidente da CUT acredita, contudo, que a luta contra a reforma previdenciária conseguirá unificar o movimento sindical. Segundo ele, “nunca uma proposta foi tão mobilizadora contra o governo Temer”.

 

 

 

Valor: Como será a relação da CUT com o governo Temer?

 

Vagner Freitas: Queremos a renúncia do presidente Michel Temer e a convocação de eleições diretas já, em todos os níveis, para que se reinstaure a democracia. Entendemos que o Brasil vive um momento de exceção, um regime não democrático, por isso, não podemos ter uma relação como se nada tivesse acontecido. As ações do presidente Temer demonstram que o golpe era contra os trabalhadores, como a reforma previdenciária, a trabalhista, a PEC 55 [que fixou um teto para os gastos públicos], todas para retirar direitos.

 

 

Valor: Mas há representantes da CUT dialogando com o governo, participando de reuniões.

 

Freitas: Claro que a vida é dura, e existem momentos em que setores da central acabam tendo que ter alguma interlocução com o governo. Os espaços em que representantes da CUT mantêm conversas formais com o governo são para impedir a retirada de mais direitos.

 

 

Valor: Qual a agenda de manifestações para este ano?

 

Freitas: Já no primeiro trimestre voltaremos às ruas com o “Fora, Temer”, com as “Diretas Já”, e contra as reformas previdenciária e trabalhista. No dia 31 de janeiro a CUT reúne a sua Executiva nacional, e vamos discutir as datas também com a Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo. Temos a proposta de uma grande atividade de rua na primeira quinzena de março, aproveitando o Dia Internacional da Mulher, já que as mulheres são muito afetadas por essas reformas.

 

 

Valor: Outras centrais estão dialogando com o governo. A CUT está isolada neste enfrentamento?

 

Freitas: Não vejo a CUT isolada, eu a vejo amparada pelos trabalhadores. Agora tem um ingrediente que não conseguimos ainda: fazer os trabalhadores irem para as ruas, organizadamente, pelo “Fora, Temer”, pela volta da democracia, eu reconheço isso. Não conseguimos fazer uma greve geral contra a retirada de direitos.

“Até as lideranças que foram a favor do golpe já vêm a público dizer que o governo Temer é pior que o da Dilma”

 

 

Valor: O senhor acredita que a oposição à reforma da Previdência unificará as centrais?

 

Freitas: Até as lideranças que foram a favor do golpe, ou pelo menos que não se colocaram contrárias, já vêm a público dizer que o governo Temer é pior que o da Dilma porque retira mais direitos dos trabalhadores. Essa união das centrais virá muito mais da unidade dos sindicatos. Como um sindicato de qualquer central vai concordar com essa reforma, que inviabiliza o trabalhador de se aposentar? Nunca uma proposta foi tão mobilizadora contra o governo Temer. A discussão chegou às igrejas, aos botecos, à mesa do jantar, o trabalhador está com medo de não se aposentar. Isso é o que mobilizará, inclusive na construção da greve geral.

 

 

Valor: Mas o governo tem uma base sólida no Congresso e está confiante na aprovação da proposta.

 

Freitas: Vamos pressionar os parlamentares na sua cidade, no seu Estado, vamos deixar claro que quem votar a favor da proposta do governo é traidor da classe trabalhadora. Vamos colocar as “carinhas” deles em outdoors, em postes, nas redes sociais. Vamos pressioná-los nos gabinetes em Brasília, nos Estados, nos aeroportos.

 

 

Valor: A CUT quer travar toda a reforma no Congresso, ou aceita conversar sobre alguns ajustes?

 

Freitas: O nó da questão é que entendemos que o governo Temer tem a pretensão de repassar a Previdência aos bancos, para que se torne ativos a serem vendidos, e não uma política pública para os trabalhadores. Eles não querem modernizar, não veem a Previdência como um direito, veem como um gasto. É o conceito que nos preocupa.

 

 

Valor: Mas a CUT acha que a instituição precisa ser modernizada?

 

Freitas: Se esse governo fosse legítimo, deveria chamar um fórum nacional para discutir a Previdência, as relações de trabalho, como aconteceu nos governos Lula e Dilma. A CUT participaria para levar suas opiniões. Achamos que tem que formalizar a mão de obra para ter novos trabalhadores ingressando no sistema, tem que combater a sonegação, incentivar que os jovens adentrem no mercado com carteira assinada para garantir o futuro do sistema.

 

 

Valor: Essa mesma ótica vale para a reforma trabalhista?

 

Freitas: Dizem que a CUT é intransigente, mas ela só tem posições que defende com radicalidade, somos abertos ao diálogo. Por que somos contra a reforma trabalhista deste governo? Numa conjuntura dessa, um governo ilegítimo, crise entre os Poderes, crise econômica, alta taxa de desemprego, é nesse ambiente que se vai fazer proposta boa para os trabalhadores?

 

 

Valor: Então a CUT acha que mudanças como a flexibilização de jornada, que o governo propõe, devem ser discutidas em outro ambiente?

 

Freitas: Entendemos que tem de ter 40 horas semanais de jornada, por exemplo, eles querem 48, 52, 54 horas. Queremos um fórum específico para discutir isso. A CUT não está satisfeita, senão não teria sido criada em 1984. Desde aquela época, propomos uma renovação da CLT mas para melhor, não para pior.

 

 

Valor: O anúncio da reforma trabalhista reuniu representantes das centrais sindicais, das entidades patronais e o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Isso não demonstra, em teoria, uma mobilização social a favor da reforma?

 

Freitas: Não é verdade que o Poder Judiciário trabalhista seja a favor da reforma. Eu até acho que por motivos diferentes dos da CUT, mas não é verdade. Mesmo as centrais que apareceram naquele dia, acham que há um grande debate em relação isso, que essa reforma é para acabar com o papel dos sindicatos. Não há interesse do governo em fortalecer as organizações sindicais.

 

 

Valor: A proposta prevê um representante dos trabalhadores nas negociações coletivas.

 

Freitas: Mas é diferente de representação sindical. Neste caso, você faz a discussão a partir da estrutura do sindicato. Mas nesta proposta, significa que você pode ter um trabalhador, que nem associado ao sindicato é, que pode ser eleito, com a participação do patrão, para discutir questões à revelia do sindicato. Chamam isso de inovação! Isso é o novo peleguismo.

 

 

Valor: Não está marcada nenhuma reunião das centrais e dos sindicatos contrários à reforma para que seja feita uma mobilização?

 

Freitas: Outra das coisas que fico muito injuriado no Brasil é se fazer as coisas na calada da noite, ao apagar das luzes. É verdade que a Dilma fez também, para ser bem sincero. Mas, no apagar das luzes, no fim de dezembro, para que se faz uma coisa dessas sabendo-se que o Brasil está de férias? Claro que nós estamos com dificuldades para fazer esse fórum. Nós vamos chamar as centrais sindicais e os sindicatos que sejam contrários a essa proposta para criarmos uma organização que resista a isso.

 

 

Valor: Essa agenda de retomada de conversas e planejamento de manifestações corre em paralelo ao lançamento de uma candidatura do ex-presidente Lula?

 

Freitas: O que nos unifica é o “Fora, Temer”, “Diretas Já”, contra a reforma trabalhista, contra a reforma previdenciária e “Nenhum Direito a Menos”. Tendo eleição, vários agrupamentos terão suas preferências.

 

 

Valor: Nesse cenário, o presidente Lula tem escolha de não se jogar na campanha eleitoral?

 

Freitas: Se depender da minha opinião, não. Não é a CUT, que não tem coloração partidária. Eu, Vagner Freitas, sou defensor e batalhador pelo imediato lançamento da candidatura de Lula a presidente da República. Ele é a maior liderança que os trabalhadores já construíram no Brasil e seria extremamente importante que ele se lançasse candidato, até para fazer o debate nacional. A direita está achando que ela vai ficar discutindo apenas entre ela, mas nós temos uma liderança popular. É uma grande esperança para os trabalhadores e uma pedra no sapato dos conservadores.

“O que nos unifica é o ‘Fora, Temer’, ‘Diretas Já’, contra a reforma trabalhista, contra a reforma previdenciária”

 

 

Valor: Mas o ex-presidente Lula está preparado para sair candidato em condições distintas do passado? Ele está numa malha de processos jurídicos, investigado pela Lava-Jato. Está disposto?

 

Freitas: Eu vejo o presidente Lula muito animado. Indignado com a perseguição que ele sofre e que os trabalhadores sofrem neste desgoverno. Ele tem 71 anos de idade e um legado extraordinariamente importante. Talvez tivesse direito ao descanso, mas agora não tem mais. Pode acontecer, se o presidente não for o candidato, uma desorganização de candidaturas da esquerda brasileira enfraquecidas e que só colocam água no moinho dos conservadores. Ele pondera muito as questões familiares, as questões pessoais. Mas, como é um homem que tem compromisso com o Brasil e com os trabalhadores, ele se sacrificaria até pessoalmente para estar nessa caminhada.

 

 

Valor: Ele já tomou essa decisão?

 

Freitas: Ele precisa falar, né? Eu tomei por ele [risos]. Se ele me ouvisse e se fosse só pela minha opinião pessoal, a decisão está tomada. O que eu posso dizer é que no Partido dos Trabalhadores é uma vontade da ampla maioria e sei também de lideranças de fora do PT que também entendem que para a esquerda brasileira seria a melhor alternativa neste momento. Cada vez mais ele vai se convencendo disso [candidatura].

 

 

Valor: O senhor fez aqui um registro de uma insatisfação sobre a forma da ex-presidente Dilma governar. Os resultados da administração dela e a forma como foi interrompido o seu mandato podem atrapalhar o retorno da esquerda ao poder?

 

Freitas: A CUT tem autoridade moral para dizer que a presidente Dilma é vítima no processo e por isso somos solidários com ela o tempo inteiro. A CUT fez críticas às gestões da presidenta Dilma e do presidente Lula. As pessoas esquecem, mas fomos às ruas para nos manifestar contra a política econômica, o absurdo da indicação do [Joaquim] Levy para ser ministro da Fazenda, quando das medidas tomadas na calada da noite sobre as pensões. Fizemos manifestações na frente do Banco Central e no Congresso Nacional. Temos que restaurar a democracia numa eleição direta já.

 

 

 

Valor: Mas a conjuntura é favorável?

 

Freitas: Não acho que seja favorável. É uma conjuntura difícil e a eleição, para a esquerda, não será fácil. Você tem um crescimento do comportamento conservador no mundo todo, mas temos que ter uma alternativa para fazer o debate político. Não é só para ganhar a eleição. O Brasil precisa debater politicamente ideias diferentes das que estão colocadas aí. No mundo está se generalizando a ideia da violência e da intolerância contra o contraditório. Temos que ter uma candidatura como a do Lula e outras que venham trazer os valores democráticos, de humanismo e um Estado que seja interventor na economia. Se vai ganhar ou vai perder, os eleitores é que vão se pronunciar nas urnas.

 

Fonte: Andreia Jubé e Fernando Exman – Jornal Valor Econômico

Fontes:

Publicado em:20/01/2017

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