#Destaques | 25/03/2019
Mais de 5 mil trabalhadores e trabalhadoras, incluindo jovens e aposentados, foram às ruas no final da tarde desta sexta-feira (22), em Porto Alegre, para protestar contra a reforma do governo Bolsonaro, marcando o Dia Nacional de Luta em Defesa da Previdência. Após um ato organizado pelas centrais sindicais e movimentos sociais na Esquina Democrática, os participantes saíram em caminhada até o Largo Zumbi dos Palmares.
O ato contou ainda com diversas apresentações do músico Fabiano Leitão, conhecido como TromPetista, que tocou o tema da luta antifascista Bella Ciao, a Internacional Socialista, o samba-enredo da Mangueira de 2019, que homenageou Marielle Franco, e o canto “Olê, Olê, Olê, Lula, Lula”, um dos momentos mais aplaudidos.
Houve também manifestações e panfletagens ao longo do dia em pelo menos 72 cidades no Estado, como Caxias do Sul, Rio Grande, Santa Maria, Cruz Alta, Ijuí, Pelotas, Novo Hamburgo, Igrejinha, Taquara, São Leopoldo, Passo Fundo, Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires e Santa Rosa, dentre outras, atingindo cerca de 1 milhão de gaúchos e gaúchas, segundo cálculos do presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo.
Ainda houve muitos gritos de “Lula livre” e “Marielle presente, ontem e sempre”.
Boicote da mídia
“Começamos a semana passando uma baita vergonha como trabalhadores e brasileiros, com o Bolsonaro, lá nos Estados Unidos, lambendo as botas dos ianques, entregando Alcântara, abrindo mão dos vistos e entregando o Brasil”, criticou Nespolo.
“Mas nós estamos terminando a semana, com uma baita vitória, com este ato em Porto Alegre e outros 72 no Rio Grande do Sul. Não é pouca coisa. Nós dialogamos com mais de 1 milhão de gaúchos”, disse o dirigente da CUT-RS, salientando que as pessoas “não têm informação e não sabem do que se trata”; observou.
“A televisão, todas elas disputam entre si quem fala melhor da reforma. Não tem um contraponto, não tem espacinho de nada para um analista, um âncora, um deputado nosso ou um representante nosso para dizer o que é essa reforma, como vai atingir os aposentados”, enfatizou Nespolo.
“De cabo a rabo, é uma proposta para destruir o nosso futuro, destruir o futuro da juventude, destruir o futuro desta nação”, frisou.
Para Nespolo, essa mobilização “nos coloca de pé, com a cabeça erguida, dizendo que é o primeiro degrau que a gente levanta, o primeiro passo, pois estamos acordando a nossa classe”.
Construção da greve geral
“Àqueles, que se equivocaram, nós estamos dizendo: ninguém votou pra acabar com a aposentadoria. Quem não votou no Bolsonaro ou quem votou, não votou pra acabar a sua aposentadoria. Foram enganados, estão passando a perna e o povo está de saco cheio de ser enrolado”, ressaltou o presidente da CUT-RS.
“Nós precisamos construir um dia de greve geral, dois dias de greve geral, três dias de greve geral, greve por tempo indeterminado, se for necessário, para colocar esses picaretas no seu lugar. A luta só está começando”, concluiu.
Unidade e resistência
O ato foi marcado pela defesa da unidade das centrais e demais entidades sindicais contra a reforma e pela construção de uma greve geral para pressionar o Congresso Nacional a não aprovar a proposta de Bolsonaro.
A presidente do Cpers, Helenir Aguiar Schürer, defendeu que é preciso ampliar a base de mobilização contra a reforma e ir além dos movimentos sociais. “Passou o tempo que a gente só vinha, participava do ato e voltava pra casa. A partir de agora, temos que conversar com nossa família, com nossos amigos e vizinhos. A luta é por nós, pelos nossos filhos”, disse.
A dirigente da Intersindical, Neiva Lazzarotto, criticou a entrevista concedida na quinta-feira (21) pelo ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM). Ele disse que “o Chile lá atrás teve que dar banho de sangue para mudar princípios macroeconômicos”.
“Onyx, que morda a sua língua”, disse Neiva, destacando ainda que a maioria dos aposentados chilenos recebe hoje um valor abaixo de um salário mínimo, como resultado do modelo de capitalização que o governo Bolsonaro quer implantar no Brasil.
A deputada federal Fernanda Melchionna (PSol) também saiu em defesa da construção de uma greve geral. “A unidade precisa ser potencializada, para que a gente construa uma greve geral para derrotar o primeiro grande projeto do governo Bolsonaro”, afirmou.
Reforma não acaba com privilégios
“O golpe que tirou a presidenta Dilma e que condena injustamente Lula é um golpe contra o povo trabalhador deste país. Este golpe aparece agora na forma de uma proposta, não de reforma da Previdência. Esses caras querem destruir a previdência pública”, denunciou.
Ao contrário da propaganda oficial do governo, a reforma não irá combater privilégios. “Quando eles dizem que vão poupar R$ 1 trilhão em 10 anos, não dizem que esse dinheiro sai do trabalhador, do agricultor”, disse o ex-ministro Miguel Rossetto (PT).
Na mesma linha, o ex-deputado estadual Juliano Roso argumentou que não existe reforma em curso e que o seu partido, o PCdoB, poderia sim ser favorável a uma reforma que tirasse privilégios de políticos, militares e da elite do Judiciário. ““O que está em curso é o fim da Previdência”, disse Roso.
Citando o avô Leonel Brizola para dizer que a reforma é de interesse dos bancos, a deputada estadual Juliana Brizola (PDT) também defendeu a necessidade de que é preciso mostrar à população os efeitos prejudiciais que as mudanças na Previdência trarão aos trabalhadores.
Juliana foi aplaudida ao destacar que o PDT fechou questão no Congresso contra a proposta de Bolsonaro, assim como a favor do plebiscito na Assembleia Legislativa para a venda de estatais.
Houve ainda manifestações de dirigentes de outras centrais, partidos (PCB, PSTU e Solidariedade) e movimentos sociais. Também compareceram vários deputados federais, como Henrique Fontana, Maria do Rosário e Elvino Bohn Gass, todos do PT, e Pompeo de Matos (PDT), além de deputados estaduais, como Sofia Cavedon (PT), e vereadores, como Carlos Comassetto (PT), e o ex-governador Olívio Dutra.
Fonte: CUT-RS com Sul21, Extra Classe e fotos de Marcus Perez (CUT-RS) e Guilherme Santos (Sul21).