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#Destaques | 21/12/2018

 

“O problema não são os jovens. Chamá-los de nem-nem traz a falsa sensação de que são eles os responsáveis por uma situação de inatividade que nem mesmo é real, já que a maioria não está parada: está procurando trabalho, dedicando-se a algum tipo de curso não regular ou cuidando dos afazeres domésticos”, diz o Dieese, em análise sobre o mercado de trabalho para a juventude. A expressão refere-se àqueles que nem estudam e nem trabalham, mas o instituto faz ressalvas ao termo.

 

No terceiro trimestre, segundo o Dieese, com base em dados do IBGE, a estimativa é de que mais de 11 milhões de jovens entre 15 e 29 anos estavam sem trabalho ou fora da escola – 24% do total. Mas apenas 8% deles não procurava trabalho ou tinha alguma atividade em casa. “A ideia de que os jovens estão nessa situação (nem-nem) por falta de vontade de trabalhar ou de estudar não se aplica na maior parte dos casos. Há evidências de que, em geral, esta é uma condição transitória.”

 

Nas entrevistas para a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, apenas 5% dos jovens disseram que realmente não queriam trabalhar, lembra o Dieese. E 41% tinham procurado trabalho ativamente. Das mulheres, 31% disseram que não podiam trabalhar porque tinham de cuidar de afazeres domésticos. “Ou seja, na verdade, elas estavam trabalhando, sem ser consideradas força de trabalho.” E ainda 6% dos jovens sem trabalho ou fora da escola frequentavam algum curso.

 

“É preciso considerar que boa parte desse grupo populacional sem trabalho e fora da escola está em um período de transição entre essas duas etapas, de estudos e de trabalho – momento em que se deparam, ao entrar no mercado de trabalho, com elevada instabilidade”, lembra o instituto.

 

Quase um quarto (24%) dos jovens considerados “nem-nem” no segundo trimestre já não estavam nessa situação nos três meses seguintes, a maioria porque começou a trabalhar. E o Dieese acrescenta que, considerado um período maior, a porcentagem de jovens que fica sem trabalho e fora da escola por quatro trimestres seguidos cai pela metade, de 24% para 12%.

 

Na análise, o instituto aborda também a questão da origem social: os jovens de renda menor que terminaram o ensino médio estavam mais empenhados na busca de emprego. “Praticamente metade dos que estavam no 3º ano do ensino médio em 2017 participava do mercado de trabalho no primeiro trimestre de 2018. No entanto, enquanto 32% estavam trabalhando, 15% estavam sem trabalho, fora da escola, mas procurando ativamente algum trabalho. Já entre os jovens de lares mais ricos, os percentuais eram inferiores: 13% e 8%, respectivamente”, compara.

 

Além disso, os jovens que vêm de lares mais pobres têm menos oportunidade de continuar os estudos e se veem “empurrados” a entrar no mercado de trabalho. “Ou seja, as origens socioeconômicas determinam as chances de matrícula no ensino superior e de conquista de trabalho.”

 

Para o instituto, aumentar a oferta de cursos profissionalizantes não é medida suficiente, já que o mercado não consegue absorver toda mão de obra qualificada. Também não funcionam medidas como as da “reforma” trabalhista, como contrato intermitente e jornada parcial. “Em vez de resolver o problema, esse tipo de contrato cria vagas de curta duração, o que pode jogar os jovens continuamente de volta para a condição de desemprego.”

 

Uma situação que reflete falta de oportunidades e desigualdade, conclui o Dieese. “A solução, muito mais do que uma responsabilidade individual, está na retomada do crescimento da atividade econômica e na valorização de políticas públicas de emprego que promovam trabalhos formais e estáveis; e de educação, visando ao acesso e à permanência dos jovens na escola, levando em consideração a realidade dessa população.”

 

Fonte: Rede Brasil Atual

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Publicado em:21/12/2018

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