#Notícias | 25/10/2017
A luta das mulheres por espaço e reconhecimento na área da indústria é uma constante que persiste ainda nos dias de hoje. Apesar da evolução, tanto em relação às tecnologias de fábrica quanto ao próprio entendimento da sociedade sobre os existentes bloqueios trabalhistas em relação ao gênero, conciliar a jornada dupla, às vezes tripla, e travar a luta por igualdade e respeito ainda parecem ser os desafios delas no mercado de trabalho.
O respeito, que guia as relações sociais, foi um dos muitos obstáculos enfrentados pela Aline Martins: mulher metalúrgica, recentemente eleita cipeira na empresa Harman do Brasil, em Nova Santa Rita. “Desde quando comecei na empresa, me chamavam de Aline louca, mas eu não dava bola, levava na brincadeira”.
Talvez, o desrespeito dos colegas na fábrica não se compare ao esforço necessário para entrar no mercado de trabalho. Aos 17 anos, aluna do Projeto Pescar, enfrentou uma jornada de curso, estágio e estudos, dividida em três turnos. “Caminhava 3km até a parada, com duas mudas de roupa na mochila para conseguir passar o dia todo fora”. Antes disso, foi vendedora de picolé nas ruas e também ajudante de pedreiro em construção civil. “Às vezes, tu não tens a oportunidade de algo melhor, então tu te obrigas a correr atrás”, afirmou a trabalhadora.
Quando questionada sobre o fato de ser mulher em um espaço – chão de fábrica – ainda predominante Vozmente masculino, Aline não destaca casos de machismo ou preconceito, mas sim, a falta de solidariedade dos colegas. “Fiz muito serviço braçal no início, empurrando carrinho de até 200kg sozinha, ou raspando chão. E nesses casos, às vezes sentindo alguma dor ou mancando, nenhum colega me ajudava”, ela lembra. “Mas quando eu estava na solda, ajudava meus colegas. Eu sempre fui atrás pra ajudar os outros, seja pra pegar algum material de EPI, ou apoio pros pés, um raspador…”
O fato de ter sido eleita em 4º lugar no último pleito para a formação da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) representa para Aline a possibilidade de melhorar o ambiente para os/as trabalhadores/as da fábrica. Para o Sindicato, é um importante passo para ampliar a representação das mulheres na luta sindical e também uma forma de tratar as pautas de gênero com maior legitimidade junto às companheiras da categoria.
Sobre as reformas da Previdência e Trabalhista, pautas urgentes do movimento sindical, a metalúrgica mostra consciência de que compreender o passado é fundamental para valorizar e lutar pelo presente. “Toda a luta dos nossos avós, pais, irmãos, foi se perdendo com o passar do tempo. Hoje as pessoas fazem protestos, mas parece que ninguém entende a importância disso, como é importante tu ter o teu emprego, seguro desemprego, fundo de garantia, ter esses e outros direitos garantidos por lei”, afirmou Aline.