#Destaques | 12/04/2016
Sob a coordenação da Frente Brasil Popular e da Frente Brasil Sem Medo, os movimentos sociais iniciaram nesta segunda-feira (11) a Vigília da Legalidade e da Democracia, na Praça da Matriz, em frente ao Palácio Piratini, no Centro de Porto Alegre. O objetivo é tornar o local um ponto de encontro para as entidades contrárias ao golpe do impeachment da presidenta Dilma Rousseff e realizar atividades, como aulas públicas, para estimular a população a aderir à iniciativa. Os movimentos prometem permanecer no local por tempo indeterminado.
Segundo o secretário de Meio Ambiente da CUT-RS, Paulo Farias, diferente de 1964, desta vez “os movimentos sociais não vão deixar derrubar a democracia”. Para ele, a unidade dos campos de esquerda é crucial.
“Estamos organizados de norte a sul do Brasil e há diversos acampamentos como este na defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores. Por isso, sabemos que não vai ter golpe”, garante Farias.
De acordo com o dirigente estadual do MST-RS, Cedenir de Oliveira, essas atividades e a mobilização popular procuram defender a democracia e denunciar o que o golpe em curso no país. “A vigília também marca para os Sem Terra o início do Abril Vermelho no Rio Grande do Sul”, destaca.
“Como é uma semana decisiva para a primeira votação na Câmara Federal, a gente decidiu montar, com os gazebos e a lona, uma vigília aqui na Praça para que os militantes e as pessoas possam ter um local para vir e a gente concentre todas as nossas atividades”, diz Maria do Carmo Bittencourt, militante da Marcha Mundial das Mulheres.
A intenção é que, pelo menos até o próximo domingo, sejam realizadas diariamente aulas públicas (nos finais de tarde), atos populares e oficinas de formação. “A ideia é que a gente fique em vigilância constante. Se a gente tiver que se desmobilizar da Praça em algum momento, a mobilização, enquanto frente, não vai parar”.
“A gente sabe que, mesmo conseguindo uma votação favorável, o momento político é de enfrentamento e nós precisamos estar permanentemente na rua, permanentemente mobilizados. Ninguém tem ilusão de que, derrotando uma votação, a gente vai conseguir derrotar toda essa frente conservadora”, complementa Maria do Carmo.
Aula pública com Marcio Pochmann
A vigília foi aberta oficialmente por volta do 12h30 com uma aula pública do economista e professor Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo. Ele fez comparações entre o contexto atual vivido no país e o período pré-golpe militar de 1964.
Pochmann lembrou que, em 1964, as forças conservadoras do país também foram respaldadas por movimentos populares e tentaram barrar que João Goulart governasse o país como uma agenda contrária aos seus interesses, primeiro com o parlamentarismo e depois com o golpe militar.
Ele afirmou que, da mesma forma, a oposição ao governo Dilma não aceitou a derrota nas urnas em 2014 e tenta promover um terceiro turno para colocar em prática uma agenda neoliberal que está representada no programa Ponte Para o Futuro, defendido pelo vice-presidente Michel Temer. No entanto, ele salientou que o contexto hoje é diferente em termos de capacidade de mobilização popular.
“O fato concreto é que o Brasil, em 1964, era um país que estava saindo da condição agrária, a maior parte da população organizada estava no campo. Hoje somos um país completamente urbano, cuja sociedade de forma mais organizada, em diferentes instituições, tem condições de se apresentar não apenas de forma retórica, mas com presença física”, afirma o economista.
O economista saudou essa unidade de forças dos movimentos sociais contra o impeachment, mas lembrou que a mobilização deve ir além do processo que tramita no Congresso. Segundo ele, a atuação destas frentes será importante tanto no caso de a presidenta ser retirada do poder, quanto no caso de ela permanecer. “É um movimento muito importante, não só para barrar o golpe, mas para reorientar o governo da presidenta Dilma. Ela precisa mudar a política econômica”, disse.
Vigília ganhará força
A expectativa é que a vigília ganhe força ao longo da semana e atinja seu ápice no próximo domingo, quando deve ocorrer a votação da abertura do processo de impeachment pela Câmara.
O presidente da Federação dos Empregados em Estabelecimentos de Saúde do Estado do Rio Grande do Sul (Feessers), Milton Kampfer, afirmou que a expectativa é de que a Praça da Matriz esteja lotada até o final da semana. “Vamos seguir aqui até a votação do impeachment”, declarou.
O dirigente destacou que o impeachment poderá abrir caminho para mudanças que poderão tirar diretos dos trabalhadores. “Se aprovado, vão tirar os direitos dos trabalhadores. Se conseguem derrubar uma presidenta por meios antidemocráticos, depois podem fazer qualquer coisa. Quando tem crise, a primeira coisa que eles pensam é em tirar direitos de trabalhadores, das mulheres. A crise é mundial, é do capitalismo”, ressaltou.
A presidente do CPERS, Helenir Oliveira, cobrou coerência dos golpistas. ”Eu tenho ouvido muitos deputados, que hoje defendem o golpe, afirmarem que tem que tirar a Dilma porque ela já não tem apoio popular. Para que estes deputados sejam coerentes, eu quero vê-los afirmarem que tem que tirar o governador Sartori, porque também não tem mais apoio popular. Mas, dentro da nossa coerência e em defesa da democracia, a gente reconhece que quem está no Piratini foi eleito democraticamente, portanto tem que governar, mesmo que traga o caos para o nosso Estado”, afirmou.
Resistência popular
O representante das pastorais sociais da CNBB, Waldir Bohn Gass, lembrou que várias pastorais tem participado ativamente da luta pela democracia. “Este golpe é apenas um biombo para o que realmente está por atrás, que são os interesses do poder econômico que quer operar também no Brasil com retrocessos importantes nos direitos sociais que foram duramente conquistados”.
A vice-líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa, deputada Stela Farias, falou em nome dos seus colegas de partido. “Estamos numa semana derradeira e que ficará para a nossa historia. Estamos organizando a resistência que, independente do resultado da votação do próximo domingo (17), queremos que sejam retomadas as pautas e o programa que elegeu a presidenta Dilma Roussef” disse.
Também compareceram no ato de abertura do acampamento representantes da Central dos Movimentos Populares (CMP), do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), da União Nacional dos Estudantes (UNE), da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), da UEE Livre, da CTB, da Intersindical, do PT, do PCdoB e de setores do Psol, entre outros.
“Aqui vão estar presentes os lutadores do povo brasileiro, aqueles que entendem que não podemos mais ter retrocesso e que a população e a classe trabalhadora têm que avançar em suas conquistas, em torno de nenhum direito a menos”, frisou Adalberto Martins, da direção do MST no Estado.
Fonte: CUT-RS com Sul 21 e Correio do Povo