#Destaques | 14/08/2019
O vento e o frio do inverno gaúcho não impediram que mais de 30 mil trabalhadores, estudantes e aposentados tomassem as principais ruas do centro de Porto Alegre no final da tarde e início da noite desta terça-feira, 13 de agosto, dia nacional de luta contra a reforma da Previdência, em defesa da educação pública e por empregos. Houve aula pública, ato e concentração em frente ao Palácio Piratini, ato na Esquina Democrática e caminhada até a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A mobilização havia sido convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e apoiada pelas centrais, sindicatos que representam educadores, União Nacional dos Estudantes (UNE), movimentos sociais e partidos de esquerda.
Ocorreram também manifestações em diversas cidades do interior do Estado, como Pelotas, Rio Grande, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Maria e Viamão, dentre outras.
Servidores estaduais repudiam política do governo Leite
Na Praça da Matriz, servidores do RS protagonizaram um ato de denúncia do governo Eduardo Leite (PSDB). Com emoção, a presidente do CPERS Sindicato, Helenir Aguiar Schürer, pediu um minuto de silêncio por mais uma professora que tirou a própria vida.
“Do outro lado desta praça, temos um governo que, mais uma vez, elegeu como inimigo número um os servidores do Executivo”, disse a representante da categoria, alertando para a miserabilidade dos educadores, que recebem o segundo pior salário do país.
O dia 13 foi, também, a data de pagamento da primeira faixa salarial da folha de julho, representando o maior atraso desde o início da política implementada pelo ex-governador José Ivo Sartori (MDB). Ao todo, são 44 meses de proventos atrasados e parcelados e, no caso dos educadores, quase cinco anos sem qualquer reajuste salarial.
Helenir lembrou que, para além do arrocho salarial, há um conjunto de medidas que impõem uma situação insustentável para quem trabalha no chão da escola. O governo demite contratados em licença saúde, fecha escolas, precariza a relação trabalhista e se mostra incapaz de apresentar soluções para problemas básicos, como a grave falta de educadores nas escolas.
Direito à educação não pode virar mercadoria
Houve também aulas públicas sobre mercantilização da educação e da saúde, bem como acerca do tema das liberdades democráticas. “Não podemos deixar que o nosso direito à educação seja transformado em mercadoria”, defendeu Liane Maria Bernardi, doutora em Educação pela UFRGS.
“Os setores empresariais estão sempre prontos e organizados para se apropriarem de recursos públicos com discursos sedutores. Precisamos, também, nos preparar para a disputa”, enfatizou.
A manifestação foi realizada em conjunto com diversas entidades representativas do funcionalismo, incluindo ADUFRGS, ASSUFRGS, CEAPE, SINASEPE, SINDJUS, SINDSEPE-RS, SEMAPI, SENERGISUL, SINDICAIXA, SINDPERS, SMPG/Gravataí e UGEIRM.
Nem cortes na educação, nem programa Future-se
Depois, os participantes saíram em caminhada até a Esquina Democrática, onde foi promovido o ato das centrais. Os representantes das entidades e organizações repudiaram as políticas do governo Bolsonaro (PSL), como os cortes de verbas nas universidades, institutos federais e na educação básica, o programa Future-se, a reforma da Previdência, os projetos de privatizações e a MP 881 da Liberdade Econômica que libera trabalho aos domingos e feriados.
Eles ainda protestaram contra as políticas do prefeito Nelson Marchezan Júnior (PSDB), que tem atacado os direitos dos municipários, enquanto as ruas da cidade permanecem cheia de buracos. Também foi denunciada a Mina Guaíba, um projeto de mineração de carvão em plena região metropolitana de Porto Alegre.
“Não seremos os últimos da nossa família a entrar na universidade pública”
“Não seremos a geração que vai permitir o desmonte da educação. Não seremos a geração que irá permitir que o governo fale que nós fazemos balbúrdia, quando nós produzimos 90% da pesquisa nacional. Estamos aqui para mostrar que não seremos os últimos da nossa família a entrar na universidade pública”, disse uma representante do DCE da UFRGS.
O programa Future-se, lançado pelo governo Bolsonaro há cerca de duas semanas , que pretende terceirizar o financiamento e a gestão das universidades e institutos federais, foi alvo de muitas críticas dos manifestantes.
Esquerda unida deu sinais que vai botar pra correr o governo Macri
O presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, destacou a situação na Argentina e as eleições primárias ocorridas no último domingo, cujos vencedores foram os candidatos da coalizão Frente de Todos, Alberto Fernández e Cristina Kirchner.
Ele comparou o governo do atual presidente Mauricio Macri ao de Bolsonaro. “O mercado está em paz no Brasil, mas o mercado está nervoso na Argentina porque a esquerda unida deu sinais que vai botar para correr aquele governo Macri, que fez a mesma coisa na Argentina: vendeu empresas, retirou direitos e privatizou”, disse Nespolo.
Para o dirigente da CUT, o dia de hoje foi mais um dia de “resistência e de unidade”. “O povo trabalhador, os estudantes, os desempregados de norte a sul do Brasil em portas de fábricas e nas universidades, denuncia os cortes na educação, os programas de privatização do ensino, o desemprego, a reforma da previdência social e o fim da aposentadoria”.
Nespolo defendeu a construção de uma nova greve geral para o período de votação da reforma da Previdência no Senado, Ele também criticou a venda do patrimônio público em diferentes instâncias de poder. “O Brasil está à venda, o Rio Grande do Sul está à venda. O mercado, aqui no Brasil, fica nervoso quando vê essa multidão na rua, quando percebe que o Lula pode sair da cadeia, quando a gente se agrupa numa frente ampla junto com os estudantes, junto com os camponeses, para fazer a resistência e recuperar o nosso futuro”, disse.
O presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, afirmou que Bolsonaro desenvolve uma “política que quer acabar com a educação pública, com o direito à aposentadoria, com o direito dos trabalhadores e, acima de tudo, com a democracia”. Ele também lembrou a derrota de Macri na Argentina e lembrou a necessidade de uma luta unificada.
“A Argentina, nossa vizinha, já está dando resposta ao neoliberalismo. Agora aqui, no nosso país, os estudantes, os educadores, os trabalhadores, as trabalhadoras e o povo brasileiro vão intensificar essa luta. Uma luta que tem que ser cada vez mais ampla, a luta cotidiana por nossos direitos, mas, acima de tudo, a luta política para derrotarmos esse governo”, disse Guiomar.
“Unificou, unificou, é estudante junto com trabalhador”
Após o ato, os manifestantes seguiram em caminhada pela Avenida Borges de Medeiros, Rua Júlio de Castilhos, Túnel da Conceição e Avenida Osvaldo Aranha. Eles carregaram diversas faixas como “Não à reforma da Previdência”, “Sim à educação, não ao carvão”, “Moro ladrão, roubou a eleição” e “Lula livre”.
Também entoaram várias palavras de ordem, como “Unificou, unificou, é estudante junto com trabalhador”, “Ô, Bolsonaro, vou te dizer, eu não trabalhar até morrer”, “Sou estudante, não abro mão, da Previdência e da Educação” e “A nossa luta é todo dia. Educação não é mercadoria”.
Vários motoristas que passavam buzinavam e moradores de prédios acenavam e até piscavam a luz em apoio ao protesto.
A marcha foi encerrada na Faculdade de Educação (Faced) da UFRGS. No caminhão de som, uma representante da UNE explicou que a decisão foi uma forma de apoiar a UFRGS, maior universidade pública no Estado. “Sabemos que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul valorizam a educação. Queremos mostrar que nos importamos com a universidade pública”, disse.
Além das centrais e movimentos, a mobilização contou ainda com a presença de vários parlamentares, como os deputados estaduais Pepe Vargas, Edegar Pretto e Fernando Marroni, todos do PT, a deputada Luciana Genro, do Psol, e a deputada Juliana Brizola, do PDT. Também participou o vereador Roberto Robaina, do Psol, bem como o ex-prefeito Raul Pont, do PT, e dirigentes do PCdoB, PSB, PCR, PCB, PCO e PSTU.
Fotos: Marcus Perez (CUT-RS), Caco Agemi (CPERS) e Luiza Castro (Sul21)
Fone: CUT-RS com CPERS e Sul21