Dieese
#Notícias | 01/06/2023
Informe elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) aborda as diferenças na inflação de 2022 e 2023
POR QUE A INFLAÇÃO DE 2022 FOI MAIOR DO A INFLAÇÃO DE 2023?
Em 2022, o acumulado do INPC para a data-base de 1º de maio (Maio/2021 até Abril/2022) foi maior em razão da disparada do preço dos alimentos, transporte/combustíveis e habitação (os três grupos de maior peso no cálculo de inflação). Essa alta ocorreu por conta da política de preços da petrobras que dolarizou nosso combustível, dolar alto que encareceu custos de produção e importações, fim das políticas públicas de alimentos, questões climáticas, aumento das exportações e tensões geopolíticas externas, dentre outros. O governo anterior teria que ter atuado para atenuar os efeitos da alta dos preços. No entanto, ao negligenciar estes fatores, a conta saiu muito cara para a classe trabalhadora, que foi a que mais perdeu com alta da inflação. O peso da alimentação no orçamento das famílias foi proporcionalmente maior e os alimentos subiram bem acima da média geral de preços.
Reflexos da eleição na inflação de 2023
No terceiro trimestre de 2022, num “canetaço” com fins eleitoreiros, o governo reduziu o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis, que é um dos itens de maior peso no cálculo de inflação. Com essa medida eleitoreira, o INPC/IBGE, que na média estava apresentando índices mensais em torno de 1% e acumulado 12 meses acima de 10% no primeiro semestre de 2022 (GRÁFICO 1), registrou deflação (índices negativos) de julho a setembro de 2022 trazendo a queda geral do índice (INPC). Importante também assinalar que os trabalhadores com menor renda foram os que menos sentiram essa deflação, uma vez que os alimentos e outros itens de peso importante no seu orçamento continuaram subindo.
A inflação é calculada a partir da média dos padrões de consumo de diversas famílias. Por ser uma média, nem todas as famílias se encaixam nessa estrutura de consumo, pois cada família tem uma estrutura de gastos diferenciada, tendo a sua inflação individualmente. Por isso sentem de forma diferenciada a elevação de preços.
Ainda, vale dizer que o próprio presidente do Banco Central declarou (foi veiculado em diversos veículos de imprensa) que a Inflação estaria em 9% se não fosse corte de impostos. Campos Neto apontou o corte de impostos sobre combustíveis e energia elétrica como responsável pela desinflação.
AO REPOR 12,50% NOS SALÁRIOS EM 2022, OS TRABALHADORES GANHARAM MAIS?
Inflação maior não significa ganho maior. O que garante o ganho é a diferença para além da inflação. Os resultados das negociações coletivas de reajustes salariais mostram a grande dificuldade para a maioria das categorias em obter a recomposição do poder de compra corroído em um ambiente com índices maiores de inflação, elevado desemprego e baixo crescimento. Índices de inflação maiores dificultam o espaço de ganhos reais nas mesas de negociação.
O trabalhador no tabuleiro de correlação de forças é o elo maisfrágil nesse jogo. Em um contexto onde a economia não cresce, com crise de emprego, alta da informalidade, reforma trabalhista e sindical que fragilizou os sindicatos e inflação elevada, o quadro se agrava ainda mais pois diminui o poder de barganha da classe trabalhadora. A Inflação não é neutra, quem mais perde com alta dos preços é a classe trabalhadora que não tem outros meios de se proteger pois depende estritamente do salário.
Na data-base de Maio de 2022, o INPC registrou 12,47% no acumulado de 12 meses. O Sindicato, por meio da negociação coletiva, conquistou reajuste de 12,50%, o que representa um pouco mais do que 100% do INPC, recompondo o poder de compra em 12 meses. A experiência mostra que a combinação de crescimento econômico (melhorias no mercado de trabalho) e inflação mais baixa favorecem o ambiente para ganhos reais já que melhora o poder de barganha da classe trabalhadora.
POR QUE A INFLAÇÃO DE 2023 FOI BAIXA SE OS PREÇOS CONTINUAM ALTOS?
Primeiro porque inflação baixa não significa que o custo de vida ficou menor, mas sim, apenas que o ritmo de subida dos preços diminuiu, ou ainda, significa dizer que os preços estão aumentando menos. A Inflação é uma variação de preço, que não é a mesma coisa que custo de vida. Os preços podem não variar ou variar pouco e o custo de vida, mesmo assim, ser elevado, que é o que acontece no Brasil, pois os salários são muito baixos para fazer frente ao elevado custo de vida.
A desaceleração recente da inflação decorre principalmente da manobra eleitoral do governo anterior com os efeitos da redução das alíquotas máximas de ICMS sobre os combustíveis e energia elétrica. Mas ela volta a subir em fevereiro de 2023 com o impacto dos gastos com educação (mensalidades escolares) e, em março, com a volta parcial do imposto dos combustíveis. Essa desaceleração é importante, claro, mas ainda está longe de trazer uma melhora das condições de consumo pois as despesas básicas do orçamento dos trabalhadores, como alimentação, tarifas de energia, água e habitação, ainda estão muito caras para o padrão de salários no Brasil.
No gráfico abaixo fica nítido o aumento de preço dos alimentos bem acima do INPC no período do governo Bolsonaro (2019 a 2022).
Juros impactam a renda dos trabalhadores
Vale ainda dizer que a inflação não mede, por exemplo, as despesas com as taxas de juros de cartão de crédito e financiamento, por exmeplo, e que podem fazer parte dos gastos dos trabalhadores. Nesse ponto, cumpre dizer que o nível de endividamento (78% das famílias) e inadimplência (67 milhões de brasileiros nessa situação) bateu recorde em 2023. Os juros no Brasil (Taxa Selic 13,75%) é um escândalo (o maior juros reais do mundo, descontada a inflação), pois encarece o crédito (diminui o consumo) e drena parte importante da renda dos trabalhadores para o setor rentista (setor financeiro, fundos de investimento, etc) que nada produz e cada vez mais fica mais rico e concentra renda.
Fonte: Dieese