#Destaques | 08/09/2016
Cerca de 2 mil pessoas enfrentaram o vento gelado que soprava às margens do Guaíba na manhã desta quarta-feira (7), em Porto Alegre, e participaram do 22º Grito dos Excluídos, ato organizado por movimentos sociais e que ocorre desde 1995 em paralelo ao desfile cívico-militar do Dia da Independência.
Capitaneado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e pelas pastorais sociais, com o apoio da CUT-RS e de várias entidades sindicais e movimentos sociais, o ato deste ano foi marcado por repetidos gritos de “Fora Temer” ao longo de suas mais de duas horas de duração.
Com o lema “Este sistema é insuportável: exclui, degrada e mata” e o tema “Vida em primeiro lugar”, o Grito dos Excluídos teve duas concentrações a partir das 9h. Uma foi no Monumento dos Mortos e Desaparecidos, no Parque Marinha do Brasil (Avenida Ipiranga esquina com a Avenida Beira Rio), próximo ao desfile alusivo à independência do Brasil.
Outra foi na sede do Incra (Avenida Loureiro da Silva),ao lado do prédio do Ministério da Fazenda, o Chocolatão, onde cerca de 2 mil trabalhadores sem terra estão acampados desde a manhã de segunda-feira (5). Os agricultores exigem a retomada da reforma agrária com o assentamento de 2,3 mil famílias acampadas no Estado e a suspensão da decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de penalizar mais de 578 mil assentados no país por considerá-los irregulares.
No RS, onde há em torno de 13 mil famílias assentadas, segundo informações do Incra e mais de 10,5 mil beneficiários da reforma agrária encontram-se em situação de irregularidade.
“O Grito dos Excluídos reflete esse momento de enfraquecimento da democracia, mas, sobretudo, um momento em que a classe trabalhadora está na iminência de perder direitos”, disse Cedenir de Oliveira, coordenador do MST no Rio Grande do Sul.
“Grande parte das nossas famílias estão impedidas de fazer qualquer tipo de movimentação porque o TCU apontou irregularidades, dentre elas que as pessoas melhoraram de vida”, afirma o coordenador do MST.
“Nós temos consciência que a nossa luta enfrenta os temas gerais da política, mas, também, os movimentos sociais carregam as suas pautas históricas. O MST carrega a pauta da reforma agrária e essa manifestação é justamente para reposicionar nesse contexto o tema da reforma agrária”, salientou o líder sem-terra.
Por volta das 9h45, os manifestantes iniciaram uma marcha pela Avenida Loureiro da Silva em direção a Avenida Beira-Rio, onde estava sendo realizado o desfile cívico-militar. Ao longo do trajeto, representantes dos movimentos sociais e pastorais da igreja destacavam a história do Grito dos Excluídos que há 22 anos tem levado milhares de pessoas às ruas em todo o Brasil.
Durante o percurso, em diversos vezes foi iniciado o coro de “Fora Temer”, ora dos manifestantes, ora vindo do caminhão de som. Neste, os organizadores alternavam cantos e palavras de ordem em defesa da reforma agrária com pedidos de união dos trabalhadores do campo e da cidade contra a agenda de reformas do governo Temer e de denúncias dos efeitos do capitalismo na vida dos trabalhadores.
“O campo e a cidade estão unificados aqui no Grito dos Excluídos em razão da agenda do golpe, que é uma agenda contra a classe trabalhadora, motivo pelo qual nós não poderíamos deixar de integrar o ato. Eles querem acabar com a CLT, com o acesso à Previdência, e nós estamos denunciando isso”, destacou Claudir Nespolo, presidente da CUT-RS. “É um dia de intensa mobilização para dizer aos nossos adversários, que assumiram o poder no golpe, que não vão ter moleza para tirar os nossos direitos”.
Representando a Frente Brasil Popular, Claudir também se manifestou contra o golpe e parabenizou as entidades que organizaram a mobilização. “Somos milhares que estamos nas ruas neste dia frio para lutar por direitos sociais”, declarou.
De acordo com Claudir, a maior participação dos trabalhadores urbanos na edição deste ano do Grito já é uma espécie de chamamento para o Dia Nacional de Lutas, Protestos, Greves e Paralisações, a ser realizado no próximo dia 22 de setembro, que será, segundo ele, um “esquenta para a greve geral”.
“Não vamos entregar nenhum direito, não vamos dar sossego para os golpistas, vamos resistir e lutar pela democracia e pelo nosso futuro”, concluiu o presidente da CUT-RS.
Durante toda a manhã, o ato transcorreu pacificamente e foi acompanhado pela Polícia Militar. Em dois momentos, o andamento dele foi interrompido. No primeiro, entre 5 e 10 minutos, por temor por parte do comando da BM de que o ato passasse ao lado de uma carreta de grande porte do Exército que não teria como ser manobrada.
Posteriormente, ao se aproximar do local em que ocorria o desfile cívico-militar, também na Avenida Beira-Rio. Ali, a caminhada foi interrompida por mais de uma hora. Uma barreira da polícia do Exército fazia a separação entre o ato e o desfile. Nesse momento, as falas e os cantos continuaram.
Pauta neoliberal dos golpistas
Os movimentos sociais alertaram para uma série de violações desencadeadas pelo sistema. Além das mazelas do capitalismo, o golpe consumado no Brasil para implementar uma pauta neoliberal também foi amplamente denunciado.
“Um dos motivos para darem esse golpe foi a descoberta do pré-sal, isso tornou o Brasil o terceiro país em jazidas de petróleo do mundo e eles querem entregar essa riqueza do povo brasileiro para o capital estrangeiro”, disse o diretor do Sindicato dos Petroleiros do RS e da CUT-RS, Dary Beck.
O vice-presidente da CUT-RS e diretor da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal, Marizar Melo, alertou os presentes sobre os ataques que estão vindo com a reforma trabalhista e previdenciária. “Apenas a nossa unidade nas ruas vai barrar o retrocesso”, disse.
De acordo com o dirigente, o país foi vítima de três golpes. “A cassação do mandato da presidenta eleita Dilma Rousseff, o ataque aos nossos direitos e o terceiro é ter o congresso mais reacionário da história”, apontou.
Criticando o grande número de policiais, a diretora do CPERS Sindicato, Sônia Solange Viana, afirmou que “ali não havia bandido, apenas trabalhadores defendendo os seus direitos.” A educadora destacou que o Grito dos Excluídos acontece em um momento triste da nossa história e, por isso, a classe trabalhadora terá que resistir. “Temer não é reconhecido como presidente do Brasil nem aqui, nem na China. Não vamos permitir a retirada de direitos, nem pelo Temer, nem pelo Sartori”, finalizou.
“O Deus da vida defende os direitos da classe trabalhadora, como ensinou o Papa Francisco”, enfatizou o representante das pastorais sociais da CNBB, Waldir Bohn Gass. “Não importa se somos poucos, o que importa é que não fazemos eco para a injustiça. Lutamos pela dignidade humana, pois o nosso Deus é o Deus das mulheres, dos jovens, dos negros, dos LGBTs, dos militantes e não o Deus que eles falam no Congresso”, disse Dom Humberto, da Igreja Episcopal Anglicana de Porto Alegre.
O ato contou com a participação de políticos, como o ex-ministro Miguel Rossetto (PT), o deputado federal Henrique Fontana (PT), os deputados estaduais Edegar Pretto (PT) – ligado ao MST – e Manuela D’Ávila (PCdoB) e também de candidatos a vereador de Porto Alegre.
Pouco antes do meio-dia, porém, os organizadores resolveram não esperar o fim do desfile militar e retornaram pela Beira-Rio até a sede do Incra, onde o ato foi encerrado.
Confira imagens do ato em Porto Alegre
Fonte: CUT-RS com Luis Eduardo Gomes – Sul21