#Notícias | 28/10/2019
Alberto Fernández é o novo presidente da Argentina. Com 97% das urnas apuradas (até às 2h desta segunda, 28), o candidato pela Frente de Todos e apoiado por Cristina Kirchner, que concorreu como sua vice, recebeu 48% dos votos, contra 40,4% do atual presidente, Maurício Macri. Na Argentina, bastam 45% dos votos para um candidato vencer a eleição ainda em primeiro turno — ou 40% e uma margem superior a 10%.
Por um lado, a eleição de Fernández marca a volta do kirchnerismo e do peronismo ao poder na Argentina, mas, talvez acima disso, marca a derrota do projeto liberal de Macri. Eleito em 2015 com a promessa de arrumar a economia depois dos últimos anos do governo Kirchner, Macri entrega o país com piora em praticamente todos os indicadores. A pobreza aumentou, a inflação aumentou, o PIB caiu, a dívida explodiu. Ainda assim, o presidente tentou jogar no colo de sua antecessora os problemas do país, ainda que os cortes promovidos pelo governo, o aumento das tarifas de energia e a gestão errática da economia tenham contribuído diretamente para a situação.
Já Fernández herdou, em maio, a cabeça da chapa quando Cristina Kirchner optou por não concorrer à presidência. Acusada de irregularidades e atenta ao que aconteceu no Brasil em 2018, Cristina entregou o posto a Fernández, que foi chefe de gabinete de seu marido, Néstor Kirchner, uma decisão que se mostrou acertada. Nas primárias partidárias de 11 de agosto — chamadas de PASO (Primarias Abiertas Simultáneas y Obligatorias) –, consideradas como uma verdadeira prévia das eleições, a Frente de Todos recebeu 47,65% dos votos, contra 31,79% de Macri.
Neste domingo, data em que coincidentemente a morte de Néstor completou nove anos, a expectativa era de que Fernández pudesse até ampliar a vantagem. Os meios de comunicação já davam como favas contadas a vitória do peronista e dedicavam a ele a principal parte da cobertura do dia. Quando as urnas encerraram, às 18h, milhares de pessoas já se encontravam no comitê de campanha da Frente de Todos, localizado no bairro Chacarita, enquanto o clima era de consternação entre os aliados de Macri. Apenas depois das 21h os primeiros resultados oficiais começaram a aparecer, rapidamente confirmando que Fernández estava derrotando o atual presidente, ainda que por uma margem menor do que a das prévias e do que era previsto pelas pesquisas.
Por volta das 22h30, iniciaram-se então as falas dentro do comitê, que eram acompanhadas por centenas de milhares de pessoas que tomavam as ruas de Chacarita no entorno do prédio. O primeiro a falar foi Axel Kicillof, eleito governador da Província de Buenos Aires, seguido pela ex-presidente e futura vice Cristina, recebida por cantos de “vamos a volver” (vamos voltar) da militância. “Há quatro anos vínhamos escutando eles dizerem ‘não voltam mais’, mas nesta noite voltamos e vamos ser melhores”, disse Fernández em seu discurso de vitória.
O futuro presidente destacou que, passada as eleições, trabalhará para superar a polarização política instalada no país. “Saibam todos os argentinos que cada palavra que dizemos, cada compromisso que assumimos foi um contrato moral e ético sobre o país que devemos construir”, afirmou.
Fernández confirmou que já a partir desta segunda irá trabalhar junto com Macri na transição. O atual presidente telefonou para o vencedor para parabenizar pela vitória e prometeu fazer uma oposição construtiva, o que o seu sucessor aludiu no discurso da vitória. “Vamos construir a Argentina igualitária que sonhamos, essa é o compromisso que assumo e espero que aqueles que serão os nossos opositores nestes quatro anos estejam conscientes do que nos deixaram e nos ajudem a reconstruir o país das cinzas que deixaram. E espero que exerçam agora o compromisso com o diálogo que nunca tiveram”, disse.
Em sua fala, o presidente eleito da Argentina ainda prestou homenagem ao ex-presidente Lula e pediu por sua liberdade. “Hoje faz aniversário Lula, que é um homem injustamente preso e por quem devemos seguir pedindo pela sua liberdade”, disse. “Lula livre”, completou.
Controle de dólares
Antes mesmo das primeiras conversas para a transição, o Banco Central argentino já anunciou novas medidas para tentar “controlar” o mercado financeiro, que desejava a vitória de Macri e ameaçava desde a última semana com uma acentuada desvalorização do peso em caso de derrota do atual mandatário. Pouco depois da meia-noite, a instituição impôs um novo limite mensal para a compra de dólares para pessoas físicas, reduzindo dos atuais US$ 10 mil para US$ 200.
“Ante o grau de incerteza atual, a diretoria do Banco Central da República da Argentina decidiu tomar neste domingo uma série de medidas que buscam preservar as reservas do Banco Central. As medidas anunciadas são transitórias até dezembro de 2019. Estabelece um novo limite de US$ 200 mensais para a compra de dólares por pessoas físicas com contas bancárias e de US$ 100 a quantidade de dólares que podem ser comprados em dinheiro. Estes limites não são cumulativos”, diz comunicado emitido pelo Banco Central.
O dólar fechou a sexta-feira (25) sendo cotado a 65 pesos e a expectativa de alguns veículos de imprensa era de que pudesse superar a casa dos 70 ou 80 pesos no início da semana que sucede as eleições.
Fonte: Luís Eduardo Gomes – Sul21