#Notícias | 20/03/2015
Encontro que ocorreu no assentamento Laceiros Negros, contou com a presença da Presidenta Dilma Rousseff, além de lideranças políticas, sindicais e de movimentos populares.
Em uma celebração que reuniu cerca de cinco mil pessoas, incluindo a presidenta da república Dilma Rousseff, foi inaugurada na manhã desta sexta-feira, 20, a 12ª Colheita do Arroz Agroecológico, em Eldorado do Sul. Localizado no assentamento Laceiros Negros, o espaço terá uma estrutura industrial, sendo autossuficiente desde o controle das sementes até a distribuição das sacas.
Levantando a bandeira da Agricultura Familiar e da produção de alimentos saudáveis, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) esteve à frente do encontro e disponibilizou para compra no local, inúmeros alimentos produzidos nos assentamentos.
Dirigentes e lideranças do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita estiveram presentes na inauguração e reforçaram a parceria entre a categoria metalúrgica e os trabalhadores rurais da agricultura familiar. Entre às parcerias, destacam-se a marcha ao lado da Via Campesina e do MST, em apoio ao Plano de Agricultura, e a busca pela regulamentação, na Convenção Coletiva de Trabalho, da obrigatoriedade da inclusão de alimentos saudáveis no refeitório das empresas e da aquisição acessível destes mesmos alimentos para os trabalhadores nas fábricas.
Atualmente, cerca de 471 famílias trabalham na produção de arroz agroecológico e estima-se que cerca de 20 mil toneladas sejam produzidas até o final de 2015. A CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) compra e distribui, através dos programas sociais do governo, 297 produtos produzidos pela Agricultura Familiar.
Cerimônia
A Cerimônia de inauguração da colheita teve início pouco depois das 11h e contou com a presença de ministros do governo federal, lideranças polícias, sindicais e de movimentos ligados ao MST, além do Governador do Estado do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori e o Coordenador Nacional do MST, João Pedro Stédile.
O coordenador da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), Émerson Giacomelli, iniciou as falas abordando a dimensão do espaço, no qual definiu como o “complexo de arroz”, e que conta com mais de 5.500 hectares para a produção. Giacomelli também falou a respeito da CONAB e do dever de ajudar na comercialização dos produtos da Reforma Agrária, porém, reconheceu a importância do órgão, assim como o INCRA e as políticas públicas, para os avanços na área do campo. O coordenador finalizou reforçando o valor do novo espaço – “Esta é uma área livre de cercas, do veneno e do agrotóxico”- e ainda fez um desabafo pessoal a respeito do crescimento do país nos últimos anos, afirmando que graças ao governo, seus dois filhos tinham educação garantida, tanto no ensino básico, quanto no superior, sendo aplaudido de pé por todos os presentes.
Afirmando que o Brasil é o maior consumidor de veneno por culpa do agronegócio, o coordenador do MST, João Pedro Stédile, abriu sua fala na celebração. Enfatizando o discurso anterior do companheiro Émérson Giacomelli, Stédile afirmou que a Reforma Agrária deve vir caminhando junto com a educação e esclareceu que atualmente o movimento luta por uma reforma popular, e não mais campesina: “Nossa luta cresceu e hoje não estamos batalhando apenas a favor dos trabalhadores do campo, mas também para toda a população do país. Portanto, queremos uma Reforma Agrária Popular”.
O coordenador cutucou a presidente Dilma Rousseff, presente no evento, afirmando que o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) precisa de pessoas responsáveis, que realmente conheçam a Reforma Agrária e tenham compromisso com o MST.
A respeito da crise política que o país vive, Stédile foi categórico ao afirmar que a corrupção é endêmica do capitalismo, pois as empresas que se associam ao Estado buscam apenas embolsar recursos públicos. Conforme bandeira levantada nos últimos tempos, uma reforma política foi a solução apresentada: “A convocação de um plebiscito popular depende de um longo processo de mobilização de massas”, afirmou o coordenador.
Stédile ainda fez críticas ao ajuste fiscal: “Os ministros da senhora têm que ser mais humildes. Humildes para ouvir o povo, para saber quais são as propostas (que o povo quer)”, afirmou. “Se o orçamento tem problema, por que o “seu Levy” não vem discutir conosco.” O líder do MST também fez duras acusações à Rede Globo de Comunicações, que durante o dia 15 de março, dedicou grande parte da programação às mobilizações que pediam a derrubada da Presidenta Dilma.
Dilma firma compromissos com o campo
Dilma Rousseff prestigiou a inauguração da colheita e discursou para os presentes. Em sua fala, disse que havia dúvidas quando o projeto do assentamento ainda estava no papel, mas que no dia de hoje se tinha a prova da qualidade e das possibilidades que um assentamento produz para o País: “O Brasil precisa saber que esta é uma experiência que deu certo e tem que provar que a Agricultura Familiar é um alto negócio para colocar alimento na mesa dos brasileiros”, afirmou.
Sobre os avanços obtidos pelo governo entre os anos 2003 e 2014 e relacionados ao campo, a presidenta citou as linhas de crédito, a segurança agrícola, o apoio à compra de equipamentos e à assistência técnica. Hoje, das 150 mil famílias agricultoras que trabalham com o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), cerca de três mil atuam com o processo de cooperativas. O Governo Federal pretende manter, ampliar e aperfeiçoar o programa, que cada vez mais têm resultados positivos junto à iniciativa dos agricultores.
Entre os compromissos firmados durante a inauguração, Dilma Rousseff garantiu que o governo irá comprar arroz ecológico para distribuição nos programas sociais e também firmou que o Banco do Brasil deve abrir linhas de crédito e financiamento para a chamada Agroindustrialização. Ela ainda reforçou a ampliação do Programa Minha Casa, Minha Vida Rural, como uma forma de ampliar as moradias no campo, e o Pronatec, como uma possibilidade de formação para os assentados: “Hoje eu aposto em três campos: as cooperativas, a agroecologia e a agroindustrialização”.
Crise
Não escapando de tocar em um dos assuntos mais desconfortáveis para o governo, a presidenta falou brevemente sobre a crise instalada na política e na economia: “Nos últimos seis anos, o Governo fez de tudo para que a crise não atingisse a população. Aumentamos subsídios, fizemos desonerações, baixamos as taxas de juros, reduzimos o valor da energia e não reajustamos o preço do petróleo, tudo com o dinheiro da União”, afirmou. “Porém, o Governo não tem mais como assumir tudo”.
Dilma defendeu os reajustes fiscais como necessários para continuar com o crescimento e alertou para os que apostam contra o Brasil: “Existem os que não acreditam no País, mas nosso governo está aberto aos diálogos, às sugestões e a saber o que está dando certo e o que não está.”
Confira galeria de fotos aqui.
Fonte: Rita Garrido / STIMMMEC