#Destaques | 12/04/2016
No ato da Cultura pela Democracia, que ocorreu na noite desta segunda-feira (11), no bairro da Lapa, na região central do Rio de Janeiro, o ex-presidente Lula afirmou que “jamais” imaginou, aos 70 anos, “ver golpista tentando tirar uma presidenta eleita democraticamente”. Ele voltou a criticar o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
“Veja quem quer tirar Dilma. Primeiro, Temer; segundo, Cunha; terceiro, Geddel; quarto, Henrique Eduardo Alves. Essa gente deveria usar a minha vida como exemplo. Eu perdi várias eleições e esperei para chegar a minha hora. Nunca vocês viram eu falando que o mandato do outro era ilegal, nunca me viram ir à Justiça. Eles mostraram a faceta de uma parte da elite brasileira, que não gosta e não acredita em democracia. A democracia deles é quando eles estão no poder”, afirmou.
“A elite nunca se preocupou com os mais pobres, nunca se preocupou que o pobre estudasse. Para eles, pobre nasceu para ser pedreiro, faxineiro. Nós mudamos essa lógica”, disse.
O ex-presidente voltou a falar que irá trabalhar como ministro para recuperar o país. “Nós vamos recuperar este país. Este país aprendeu a ser respeitado. O povo aprendeu a gostar de si mesmo”, afirmou.
Ele disse que a presidente Dilma Rousseff “aprendeu” que não deve governar com os olhos no mercado. “Ela fez um ajuste que nenhum companheiro gostou. Agora, a companheira Dilma aprendeu uma lição. O mercado dela não é o banqueiro, é o povo trabalhador. Eles não deixam a Dilma governar, querem truncar a democracia”, salientou.
Lula fez referência ao golpe de 1964. “As pessoas mais conservadoras diziam que os militares iam consertar o Brasil. Muita gente acreditou nisso”, afirmou. O ex-presidente disse que nunca contestou resultado de eleições e voltou a criticar a imprensa. “Perdi em 89 roubado, com apoio da Globo, e fiquei quieto”, afirmou.
Rede democrática de comunicação
A sambista Beth Carvalho deu literalmente o tom no ato que reuniu artistas e intelectuais. Ela encerrou as falas com uma sugestão: “Proponho construir uma rede democrática de comunicação em defesa da legalidade tal como fez o inesquecível (Leonel) Brizola em 1961”. A cantora defendeu que essa rede tenha, como “cabeça”, a EBC, TV Brasil, Rádio Nacional, TVT, TVs educativas, rádios comunitárias “e todos os que quiserem participar e quiserem ajudar a derrotar esse golpe”.
“Essa ferramenta faria contraponto com capacidade de mobilizar o povão que não tem alternativa de informação”, acrescentou Beth Carvalho, que entoou um samba recém-composto: “Não vai ter golpe de novo; reage, reage, meu povo”.
O cantor e compositor Nelson Sargento, de 91 anos, saudado pela comunidade artística no palco, declarou: “Eu não ia dormir sossegado se não tivesse vindo aqui hoje”. Recebeu um beijo do ex-presidente Lula.
Juntos em defesa da democracia
Como sempre muito esperado e aplaudido desde o início do evento, o cantor e compositor Chico Buarque falou três frases. “Não teria muito mais coisas a dizer do que já disse no Largo da Carioca (no dia 31). Já que cheguei aqui e fiquei besta quando vocês começaram a dizer ‘Chico eu te amo’, nós também amamos todos vocês e essa energia. Estaremos juntos em defesa da democracia. Não vai ter golpe”, disse Chico.
Também muito aplaudido, o teólogo Leonardo Boff usou bom humor: “É muito bom eu falar por último, para fazer o sepultamento do impeachment”, afirmou. “Eles também (os golpistas) falam em democracia. A democracia dos ricos. Democracia para os ricos nós não queremos. Queremos uma democracia social inaugurada por Lula e Dilma. Queremos uma democracia participativa, que enriqueça a democracia representativa, que vem de baixo, onde os movimentos sociais contam. A crise trouxe a pergunta: que Brasil nós queremos? As ruas estão mostrando.”
O cineasta Luiz Carlos Barreto, o Barretão, declarou que “não é uma passeata de 3 milhões de pessoas que vai anular o voto de 53 milhões”. Ele disse também que o impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff está sendo desencadeado pelos sonegadores de impostos do país. “Em 2015, a sonegação chegou a 415 bilhões de reais. São dez programas Minha Casa, Minha Vida que ficaram nos bolsos de quem sonega.”
Segundo Barreto, a tentativa de golpe contra Dilma precede “um segundo golpe que pretende impedir que o presidente Lula concorra nas eleições de 2018”. O cineasta pediu que as mobilizações não parem mesmo após os movimentos em defesa da democracia vencerem a “batalha do impeachment”.
Em um dos depoimentos mais emocionantes, o cantor e compositor de rap, funk, hip hop Flavio Renegado declamou um poema e afirmou: “A periferia está organizada. As comunidades nunca se calaram. O Brasil nunca ouviu as comunidades. Nós sempre sobrevivemos a tudo e vamos sobreviver ao golpe”.
O ator Wagner Moura apareceu em vídeo. Reconheceu que nunca votou em Dilma Rousseff, mas observou que a democracia está sofrendo ataques. “Tenho sido um crítico duro do governo Dilma. Eu nunca votei nela, mas 54 milhões de brasileiros o fizeram. Se nossa democracia não fosse frágil, não estaria sendo atacada e correndo risco. Mas ela avançou, e isso graças aos governos Lula e Dilma.”
O ministro da Cultura, Juca Ferreira, disse que a “mobilização é crescente no Brasil contra o golpe” dos que “namoram abertamente com o fascismo”. “A cada dia (o número) dos que são manipulados pelos meios de comunicação de massa é menor.” O ministro defendeu a construção de “uma ampla frente democrática” para enfrentar os problemas “depois de vencermos o impeachment”.
Fonte: Brasil 247 com Rede Brasil Atual