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#Destaques | 08/08/2019

 

Somada a missão de organizar e mobilizar a sociedade para as intensas e periódicas mobilizações na luta contra os ataques à democracia, aos direitos e à vida dos trabalhadores e das trabalhadoras, a CUT também discute os desafios e impactos das mudanças climáticas e do futuro do trabalho nos direitos e empregos.

 

O estudo “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018: Greening with Jobs”, destaca que, numa região do planeta com tantos recursos naturais abundantes, áreas costeiras e grande diversidade de ecossistemas, “é indiscutível que o mundo do trabalho está intrinsecamente relacionado com o meio ambiente”.

 

E discutir a “transição justa” é discutir como garantir respeito aos direitos humanos e dos trabalhadores frente às ações empresariais tanto com relação às mudanças climáticas quanto ao avança das tecnologias no mundo do trabalho.

 

No Brasil, esta discussão já acontece há mais de 10 anos, mas está ameaçada com o governo de Jair Bolsonaro (PSL), que nega as mudanças climáticas, que trabalha para o mercado financeiro internacional e sequer pensa nos direitos dos trabalhadores.

 

É neste contexto que acontece nesta quarta-feira (7) e quinta-feira (8), na sede da Confederação Sindical das Américas (CSA), a “Oficina Transição Justa e Futuro do Trabalho no Brasil”, com apoio da Confederação Sindical Internacional (CSI) e a participação de um segmento amplo de trabalhadores e trabalhadoras de diversos ramos, diretores e assessores da executiva nacional da CUT, do Observatório Social, do Dieese e de movimentos sociais.

 

Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, o movimento sindical CUTista e os parceiros presentes na oficina são corajosos em discutir transição justa para as novas relações do trabalho que envolvem o futuro do trabalho e as mudanças climáticas com um governo que não reconhece as instituições de pesquisa, os direitos dos trabalhadores, os sindicatos e as mudanças climáticas.

 

“O movimento sindical brasileiro com parcerias nacionais e internacionais está fazendo um movimento contrário a tudo que estamos vivendo e isso nos mostra que não abandonamos nossos sonhos, nossos desejos de mudança da realidade”, afirmou.

 

Segundo ela, neste momento de desconstrução permanente dos nossos direitos, com aumento de desmatamento da Amazônia, que vai nos impactar de forma negativa num futuro bem próximo, “é preciso nos organizarmos e estarmos preparados para estes desafios tão complexos e ao mesmo tempo tão urgentes. Esta oficina mostra a resistência e aponta saídas para a discussão de uma transição justa que não virá de outro lugar”.

 

O secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, questionou como enfrentar estes desafios vivendo também com o aumento de número de desempregados, de pessoas em situação de rua, da pobreza e desigualdade.

 

“Os processos de trabalho irão mudar e com isso postos de trabalho serão fechados, mas também outros serão criados. E estas oportunidades que vão se abrir tornam urgente a adaptação para assumir estes novos empregos, mas que devem ser de qualidades e com direitos. E este será nosso papel”, afirmou Daniel, complementando: “Não podemos deixar que os trabalhadores e as trabalhadoras continuem sofrendo as reais consequências desta situação enquanto a concentração de renda e os lucros de grandes empresas que, inclusive, cometem muitos crimes ambientais, só aumentam”.

 

 

Ainda no debate sobre o papel da CUT neste cenário mundial, o secretário de Relações Internacionais da Central, Antonio Lisboa, disse que é fundamental ter um projeto que inclua a garantia de trabalho decente.

 

O capitalismo nesta nova fase, a concentração de renda e a aplicação de novas tecnologias vai acabar aprofundando a divisão internacional do trabalho, com aumento da produtividade, mais desemprego e os trabalhadores próximos ao trabalho escravo e infantil, argumenta o dirigente.

 

“É um grande desafio para o movimento sindical debater um tipo de transição justa e com isso poder levar propostas para o Congresso da CUT em outubro, quando vamos atualizar nossa estratégia de luta para darmos conta destes imensos desafios que teremos nos próximos anos”, disse Lisboa.

 

No segundo e último dia da Oficina, nesta quinta-feira (8), os representantes dos ramos e das entidades que participam da atividade vão avançar no diálogo e planejar ações para que os trabalhadores e as trabalhadoras no Brasil possam de fato passar por uma transição justa.

 

Conceito da Transição Justa

 

A CUT fez uma pesquisa internamente com o objetivo de conhecer o nível de conhecimento sobre o conceito da Transição Justa e fortalecer o debate não só na Conferência do Clima em dezembro no Chile, mas também para a organização sindical e o enfrentamento político na defesa dos direitos.

 

De acordo com o resultado da pesquisa apresentado na oficina, mudanças climáticas, diálogo social, preservação do meio ambiente, desenvolvimento sustentável, novos postos de trabalho e economia de baixo carbono são alguns elementos da Transição Justa. Outros foram acrescentados durante a oficina, como redução de desigualdade e a garantia da representação sindical nos novos postos de trabalho.

 

“Precisamos fazer uma síntese de ideia e uma coleção de abordagens sobre transição justa e depois fazer uma serie de materiais informativos para tratar disso com os ramos, estaduais e também fazer uma cartilha e vídeos para discutir com a população e a sociedade, que já sofrem com os impactos destas mudanças”, destacou Daniel.

 

Segundo o levantamento, 60% dos que responderam ao questionário afirmaram que as mudanças climáticas já afetam seus empregos e quase 70% afirmaram que já afetou o ramo e o setor com perdas de postos de trabalho, ausência de negociação e discussão do avanço das novas tecnologias. Além disso, maior rigidez e controle sobre produtividade, precarização da mão de obra, mudanças de dinâmicas produtivas e relações de trabalho, o empobrecimento e a ampliação da terceirização.

 

 

Papel dos Sindicatos

 

Os desafios para os sindicatos são imensos, mas é praticamente repensar a relação entre o sindicato e o meio ambiente. E se não quiser demonstrar negação ao tema da transformação climática e seus impactos, precisa também ampliar o conceito de sindicato, analisa o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Diego Azzi.

 

“É preciso discutir trabalhos sustentáveis nas negociações coletivas e nos empregos, mas também cobrar das empresas um transição rumo à economia de baixo carbono. Porque não é qualquer emprego que precisamos buscar e sim empregos qualificados e justos e uma transição que garanta dignidade para seus povos”, disse.

 

Segundo o professor, este é um tema complexo e com a conjuntura atual no Brasil e no mundo fica mais complexo ainda, mas é preciso que os sindicatos olhem para o futuro, mesmo com as dificuldades.

 

“Até os governos do PT tínhamos uma forma de entrar no debate sobre a promoção de trabalho, que era algo dado, e a nossa preocupação estava mais vinculado como inserir a questão climática. Mas agora temos problema nas duas frentes e isso só aumenta nossos desafios”, disse Diego.

 

E um deles, segundo a apresentação de Diego é de incluir as organizações sindicais como fundamentais para a transição justa. De acordo com ele, não adianta ter no Acordo de Paris a transição justa para a força do trabalho e as entidades sindicais não aparecerem como importantes ferramentas para isso.

 

“O sindicato aumenta seu poder social com a ampliação do debate da defesa do emprego, meio ambiente e quando trata mais seriamente o tema do clima. O movimento sindical só tem a ganhar ao atuar com estas pautas de forma institucional na negociação coletiva e relação com o estado”, afirmou.

 

Para Samantha Smith do Centro de Transição Justa da CSI, Diego tem razão. A participação dos sindicatos é fundamental para garantir a transição justa, diálogos sociais e direitos.

 

“A nossa tarefa como organização que discute a transição justa é fortalecer os sindicatos para garantir direitos trabalhistas como direitos humanos nesta transição e a união entre os sindicatos e os movimentos sociais é fundamental para garantir a proteção social, incluir trabalhadores nos direitos, ter mais segurança, diálogo social e empregos bons”, concluiu Samantha.

 

Fonte: Érica Aragão – CUT Nacional

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Publicado em:08/08/2019

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