#Destaques | 01/03/2023
Na manhã de ontem (terça-feira, 28), lideranças que integram o Conselho dos Sindicatos metalúrgicos da FTM-RS reuniram-se na sede da FETAR-RS para abrir as discussões da Campanha Salarial 2023 no Estado. O encontro teve em sua abertura a participação do economista da USP, João Furtado, que traçou uma análise da conjuntura econômica nacional a partir de dois eixos: as discussões sobre a taxa de juros e a polêmica envolvendo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o governo Lula.
Furtado, que acompanha os debates sobre a Indústria no Estado, abordou a relação entre o anúncio da Taxa de Juros, mantida pelo BC em 13,75% e criticada por Lula, e os impactos sobre a renda dos trabalhadores. Para ele, a imprensa noticia o tema para vender uma ideia “de que é melhor perder o emprego do que perder com a inflação nos salários”, utilizando um discurso raso de que a “inflação prejudica os pobres”.
No entanto, a alta dos juros engessa os investimentos e o crescimento do país, uma vez que “a economia capitalista é uma economia de crédito, ou seja, se está mais difícil conseguir crédito, muito em razão das altas taxas de juros, a economia fica travada”, apontou Furtado.
O CASO AMERICANAS
Em janeiro deste ano, poucos dias após a posse de Lula, tornou-se pública a fraude de 40 bilhões das lojas Americanas. Furtado trouxe o caso como exemplo ao encontro dos metalúrgicos, como forma de elucidar o que chama de “epidemia de crédito”, que acaba se transmitindo para todo o sistema econômico.
“A fraude das Americanas jogou areia na engrenagem da economia capitalista, que é, como já mencionado, uma economia de crédito. Isso porque se coloca um efeito dominó, envolvendo outras empresas e fornecedores das Americanas que, ao aguardar o pagamento do que forneceram ao grupo, podem buscar socorro aos bancos, que por sua vez, irão aplicar juros altos em razão do cenário, de maior risco”.
Nesta lógica, ressaltou o economista, se observa como as relações financeiras contaminam as relações econômicas, podendo desencadear uma crise de grandes proporções no país. No dia a dia do trabalhador, o impacto está na contaminação das condições financeiras das empresas, que podem recorrer à redução de gastos e demissões, em razão da baixa na produção e da dificuldade em conseguir crédito junto aos bancos.
CAMPANHA SALARIAL 2023
A conjuntura traçada na abertura do encontro também deu o tom das discussões da campanha da categoria. Milton Viário, Secretário de Finanças da FTM-RS, destacou que “é o momento de aprofundar o papel político dos trabalhadores no Brasil”, considerando que a aprovação de políticas no âmbito nacional deve gerar benefício significativo à renda da classe trabalhadora.
A Reforma Tributária e o aumento do teto de isenção do Imposto de Renda são meios de “aliviar” o bolso dos trabalhadores. Portanto, compreender a papel destas políticas e mobilizar as bases para a aprovação destas medidas será papel dos Sindicatos neste ano.
REAJUSTE NÃO É O SUFICIENTE
Durante as discussões da pauta, a direção da FTM-RS apresentou um levantamento dos últimos anos sobre os preços da cesta básica, traçando uma relação com os reajustes alcançados nas campanhas salariais.
“O que os trabalhadores têm que perceber que é que nós tivemos um descontrole do preço dos alimentos, principalmente nos anos de 2021 e 2022”, destacou Milton, mostrando os números. Em 2021, por exemplo, o reajuste dos metalúrgicos foi de 7,59%, elevando o piso da categoria para R$ 1.427,34. No entanto, o reajuste da cesta básica foi de 22,81% no referido ano, pulando de R$ 518,63 para R$ 636,96. Nesta matemática, a alimentação dos trabalhadores consumiu cerca de 44,62% da renda.
Em 2022, ano em que a categoria conquistou 12,50% de reposição salarial, elevando o piso para R$ 1.605,75, o reajuste da cesta básica foi de 20,69%, passando a R$ 768,76, ou seja, mesmo com uma reposição salarial elevada, a alimentação ainda consumiu 47,87% da renda dos metalúrgicos e das metalúrgicas.
A CAMPANHA NA BASE DE CANOAS
A Plenária Estadual da Federação está agendada para o dia 21 de março, momento em que o Sindicato de Canoas deve participar e contribuir para a construção da pauta do Estado. Porém, com mesa própria de negociação, a organização na base segue as assembleias da categoria local e pode ter acrescidas à pauta geral pontos específicos da região.
Entre os meses de março e abril, os trabalhadores e trabalhadoras serão convocados para a Assembleia Geral de discussão e aprovação da pauta, que será discutida junto ao SIMECAN no mês de maio, data-base da categoria.
Fonte:
Texto: Rita Garrido / STIMMMEC
Fotos: Rafaela Amaral / STIMMMEC