#Destaques | 26/12/2018
A cerimônia de posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), na próxima terça-feira (1º), está manchada pelo escândalo envolvendo seu filho, senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), e seu ex-assessor Fabrício Queiroz.
Ex-militar, Queiroz é apontado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como tendo realizado “movimentações atípicas” de R$ 1,2 milhão em sua conta, entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017, quando atuava como motorista e assessor de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Amigo da família Bolsonaro há mais de 20 anos, Queiroz não foi convidado para a festa da posse em Brasília.
O caso veio a público em 6 de dezembro. Desde então, Queiroz foi intimado a prestar esclarecimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), mas faltou por duas vezes – nos dias 19 e 21 de dezembro. A defesa do ex-assessor alegou motivos de saúde para justificar o não comparecimento de Queiroz.
Segundo a revista Veja, “em busca de proteção”, Queiroz, que trabalhou com Flávio como motorista e segurança, além de assessor, deve seguir utilizando manobras jurídicas para evitar falar às autoridades antes da posse do novo presidente.
O Ministério Público também oficiou a Assembleia do Rio para que Flávio Bolsonaro seja ouvido sobre o caso no próximo dia 10. Familiares de Queiroz e outros assessores do gabinete do filho de Bolsonaro devem depor no dia 8.
Seguidores de Bolsonaro, que chegaram a acreditar em mamadeira com bico de pênis, seguem na batalha do WhatsApp, agora para propagar ‘explicações’
Usuário compulsivo das redes sociais, assim como o pai, Flávio Bolsonaro tem silenciado desde o surgimento do escândalo. Na última sexta-feira (21), ele afirmou não ter cometido nenhuma ilegalidade e disse não poder ser “responsabilizado por atos de terceiros”, transferindo o ônus da explicação ao ex-assessor, sumido desde então.
Queiroz trabalhou com Flávio por “mais de 10 anos”, segundo o próprio deputado estadual, que reputa “confiança” ao ex-assessor. Quando as primeiras informações do relatório do Coaf vieram à tona, o filho de Bolsonaro afirmou ter conversado com seu motorista, e que esse teria explicação “bastante plausível” para a movimentação sob suspeita, mas sem dar qualquer detalhe sobre a suposta plausibilidade.
A movimentação atípica incluía uma série de saques de médio valor (em torno de R$ 5 mil) que eram antecedidos de depósitos na conta de Queiroz com valores equivalentes. Nove assessores do gabinete do filho de Bolsonaro realizaram transações em nome de Queiroz, que coincidiam com os dias de pagamento da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. A suspeita é que o motorista de Flávio Bolsonaro seria uma espécie de “laranja”, responsável pelo recolhimento de parte dos salários desses assessores, que depois eram encaminhados à família do atual deputado e senador eleito.
A trama não se restringe apenas a Flávio e também atinge diretamente o presidente eleito. Dentre a movimentação suspeita, consta um cheque de Queiroz no valor de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro. A família diz tratar-se do pagamento de um empréstimo que haviam concedido ao amigo e ex-assessor.
Outro elo com Jair Bolsonaro é que a filha do ex-militar, Nathalia Melo de Queiroz, trabalhava como assessora no seu gabinete em Brasília. Coincidentemente, ela foi exonerada, em Brasília, no mesmo dia em que o pai era dispensado do pelo filho do presidente eleito, no Rio de Janeiro, no dia 15 de outubro, entre o primeiro e o segundo turno das eleições 2018, o que denota que a família Bolsonaro soube do relatório do Coaf sobre as transações suspeitas dos seus assessores ainda durante o processo eleitoral. Movimentações entre Queiroz e a filha somaram R$ 84 mil, segundo o Coaf.
Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que Nathalia, enquanto era funcionária da Câmara, em Brasília, trabalhava como personal trainer no Rio, em horários em que deveria estar cumprindo jornada como assessora parlamentar. Antes de atuar junto ao presidente eleito, Nathalia também trabalhou na Alerj entre setembro de 2007 a dezembro de 2016, quando também enviava dinheiro ao pai, em transações que somaram R$ 97.641,20, segundo o Coaf. O valor das transações correspondia a 99% do pagamento líquido feito pela Alerj à assessora em janeiro de 2016, segundo registros da folha salarial daquela Casa.
O Coaf, ligado ao Ministério da Fazenda, passará ao comando do Ministério da Justiça, sob o ex-juiz Sérgio Moro, no governo Bolsonaro. Moro alega que o presidente eleito “já apresentou alguns esclarecimentos” sobre o caso Queiroz. “Tem outras pessoas que precisam prestar seus esclarecimentos e os fatos, se não forem esclarecidos, têm de ser apurados. Mas eu não tenho como ficar assumindo esse papel. O ministro da Justiça não é uma pessoa para ficar interferindo em casos concretos”, se esquivou Moro, na única vez que tratou publicamente do escândalo.
Já o vice-presidente eleito, o general da reserva Hamilton Mourão, afirmou que, se for confirmado que o caso envolve o repasse de dinheiro de assessores a Queiroz, configurando uma espécie de “caixinha” paga a Flávio Bolsonaro, seria uma “burrice ao cubo”. “O dono da bola se chama Queiroz. Esse cara tem de vir a público e dizer”, afirmou Mourão à revista Crusoé.
O caso Queiroz também não é a única polêmica envolvendo assessores de Bolsonaro e família. Em agosto, também foi revelado que uma funcionária contratada pelo gabinete de Jair Bolsonaro, na Câmara, trabalhava vendendo açaí numa praia onde o presidente eleito possui uma casa de veraneio, na Vila Histórica de Mambucaba, a 50 quilômetros de Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro.
Além da Wal do Açaí, Renato Bolsonaro, irmão do presidente eleito, foi descoberto como sendo funcionário fantasma do gabinete do deputado estadual André do Prado (PR), na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Ele foi exonerado em abril de 2016, após três anos recebendo R$ 17 mil mensais, mas não aparecia para trabalhar.
Fonte: Rede Brasil Atual