#Destaques | 19/09/2018
Em pleno século XXI, parcela da população ainda acredita na existência de espaços nos quais só são permitidas a busca pelo lazer e pelo entretenimento. Outros, mais conscientes, entendem a política como elemento primordial, que ocupa todos os setores da sociedade e suas consequentes atividades. Em um ano decisivo de eleições presidenciais, onde o assunto toma conta das redes sociais e do cotidiano social, essa divisão de opiniões se torna corriqueira, principalmente em um espaço que é notícia diária: o futebol.
Nos últimos dias, com a crescente de mobilizações contrárias à campanha de um dos presidenciáveis à República, mobilizadas principalmente por mulheres, o pronunciamento de torcidas organizadas do futebol brasileiro aponta que a neutralidade política inexiste, principalmente frente às manifestações de cunho fascista e preconceituoso. Talvez, a principal tomada de posição contra tenha sido a de Rodrigo Gonzalez Tapia, presidente da maior torcida organizada do Brasil, a Gaviões da Fiel. Por meio de nota, Tapia afirmou que os associados que apoiam o presidenciável da extrema-direita discordam da ideologia e desconhecem a história do Corinthians. A Gaviões surgiu durante a ditadura militar e, apesar de já se ter passado quase meio século desde a sua criação, a principal luta ainda persiste. “Somos uma torcida que defende os direitos do nosso povo. Não podemos deixar que o nosso maior representante seja contra nós e tudo aquilo que lutamos”, declarou Tapia.
No Rio Grande do Sul, a torcida organizada mais ativa contra o fascismo no Sul também se pronunciou na tarde desta quarta-feira (19). A Inter Antifascista, ligada ao Sport Clube Internacional, escreveu nota intitulada “Torcedores e torcedoras do clube do povo: nenhum voto em Bolsonaro” para relembrar os colorados que o discurso de ódio aplicado pelo presidenciável não condiz historicamente com as conquistas e a filosofia do clube.
A página possui cerca de 8.300 curtidas e, em menos de três horas da publicação da nota, os mais de 680 compartilhamentos e 280 comentários evidenciaram o engajamento do torcedor com a causa nacional. “Não queremos escolher o candidato por ti. Sinta-se livre pra votar em qualquer um, menos num candidato antidemocrático, racista, machista e homofóbico”, respondeu a página a um crítico da nota.
Alguns gremistas deixaram o clubismo de lado para elogiar e contribuir ao posicionamento da Inter Antifascista. Demian Boaroli, torcedor da equipe rival, escreveu: “Parabéns ao Internacional pelo posicionamento, como gremista, espero que meu time e torcida também se posicionem desta forma”. Já a Aline Veleda, respondeu que é “preciso parabenizar a torcida colorada com essa iniciativa. Sigamos juntos na luta!”.
Confira a íntegra da nota da página Inter Antifascista:
TORCEDORAS E TORCEDORES DO CLUBE DO POVO: NENHUM VOTO EM BOLSONARO
No cenário atual temos candidatos dos mais variados espectros políticos distribuídos entre as intenções de voto. Esquerda e direita. Progressistas e conservadores. Assalariados e burgueses. É da democracia. No entanto, o que chama a atenção é que o candidato que lidera as pesquisas é recorrente em declarações preconceituosas e demonstra o maior desprezo pela democracia.
O Internacional se destacou desde cedo na sua história pela participação de jogadores negros em campo e entre seus torcedores. Também, o clube foi fundado e jogou os primeiros anos num bairro de maioria negra e próximo a comunidades quilombolas. A alcunha de Clube do Povo não veio por acaso. Desde essa época, insultos racistas são dirigidos ao Inter e a sua torcida pelos seus rivais.
É uma incoerência que um colorado, que conhece e admira a história de seu clube, apoie um candidato que coleciona episódios de racismo. Ele declarou em 2011 na Band que seus filhos não se apaixonariam por uma mulher negra “porque foram muito bem educados”. Nessa mesma oportunidade, classificou um relacionamento de um homem branco com uma mulher negra como “promiscuidade” (1). Ainda em 2011, devido a repercussão negativa dos comentários feitos por Bolsonaro, um grupo de neonazistas organizou um ato em defesa do candidato, reunindo por volta de quarenta pessoas (2). Em entrevista à revista Época, assumiu-se preconceituoso: “Sou preconceituoso, com muito orgulho” (3). Mais recentemente, Bolsonaro foi denunciado pela Procuradoria Geral da República (4) e pelo Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (5) pelo forma racista que se referiu a comunidades quilombolas, tratando-os como animais. A denúncia prevê pena de até 3 anos de prisão e multa de R$ 400 mil.
Pela nossa história, repetimos: NENHUM VOTO EM BOLSONARO!
Fontes:
1. https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/deputado-nega-ser-racista-mas-mantem-declaracoes-homofobicas/
2. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2011/04/06/neonazistas-ajudam-a-convocar-ato-civico-pro-bolsonaro-em-sao-paulo.htm
3. http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI245890-15223,00-JAIR+BOLSONARO+SOU+PRECONCEITUOSO+COM+MUITO+ORGULHO.html
4. https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/jair-bolsonaro-e-condenado-a-pagar-r-50-mil-por-danos-morais-a-comunidades-quilombolas-e-populacao-negra.ghtml
5. https://g1.globo.com/politica/noticia/pgr-denuncia-deputado-jair-bolsonaro-por-racismo.ghtml