#Notícias | 18/10/2017
O ambiente hoje (18) é de ressaca moral do Congresso, depois da votação que revogou decisão do Judiciário e manteve o senador Aécio Neves no cargo. O parlamentar tucano também deixa, com a decisão, de ficar sob recolhimento domiciliar durante a noite. Pode não ser pouco para ele – acusado de corrupção, obstrução de Justiça e de ter recebido em malas R$ 2 milhões dos donos da JBS.
Mas o tucano continua fragilizado no Legislativo, no ambiente político nacional e segue pressionado para deixar em definitivo a presidência do seu partido. É praticamente uma morte política para uma figura que disputou a presidência da República e liderou a onda de falso moralismo que culminou no golpe sobre Dilma Rousseff – sem imputação de crime nas costas.
É sintomático que todo o PMDB, exceto Kátia Abreu (TO) e Roberto Requião (PR), e todo o PSDB, tenham socorrido Aécio. E menção seja feita ainda à bancada de São Paulo, capital nacional do falso moralismo que levou o país à crise política e econômica em que se encontra. Os três senadores do estado, José Serra (PSDB), Marta Suplicy e Airton Sandoval (ambos PMDB, ele suplente do tucano Aloysio Nunes) também socorreram o mineiro em apuros. Bastariam esses três votos, mais o do presidente em exercício do PSDB, Tasso Jereissati, também desafeto de Aécio, e este alcançaria o mínimo de 41 votos para se livrar do castigo.
É nesse ambiente que começam os trabalhos da Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, na manhã de hoje. Com cheiro de impunidade também para Michel Temer assegurada pelos deputados. Logo eles, acusados de receber R$ 1 milhão para votar o impeachment de Dilma. E logo Temer, acusado de organização criminosa, obstrução de Justiça, responsável por uma crise econômica e de gestão sem precedentes, por medidas avassaladoras contra os direitos dos trabalhadores, as comunidades tradicionais, o meio ambiente e a soberania nacional – e por isso mesmo com taxa quase zero de aprovação.
Os governistas se articulam para que a votação do relatório da denúncia contra o presidente Michel Temer e contra os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-geral) aconteça ainda hoje, mas ainda não há certeza sobre isso. A tática foi antecipar os trabalhos, que previam a votação para amanhã (19), esvaziar o plenário e reduzir as falas de aliados na comissão.
O presidente da CCJ, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), solicitou prazo de mais três sessões plenárias ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para concluir a apreciação da admissibilidade das denúncias. Se isso acontecer, a votação vai para a próxima semana. Pacheco não precisa de autorização formal para isso, mas prefere deixar o abacaxi para Rodrigo Maia.
A mobilização dos governistas para correr com a votação tem seus motivos. Um deles, o risco de surgirem novas delações de presos na Lava Jato contra integrantes do PMDB. “A cada dia que se passa aumentam os riscos para o presidente”, admitiu na segunda-feira (16) um peemedebista, em reservado. O clima entre a base aliada do Planalto não é de plena confiança de que serão computados pelo menos 44 votos na CCJ pela blindagem de Temer. Daí o esforço de amarrar bem os acordos.
Outra razão para a pressa é que o chamado “mercado”, leia-se sistema financeiro privado, cobra a fatura da reforma da Previdência. Os principais atores do poder econômico que bancaram o golpe – junto com o a imprensa comercial – ainda esperam esse gesto dos políticos que estão ajudando a manter. Com a redução dos direitos previdenciários e a fragilidade do sistema público de seguridade social, os bancos agradecem. O Senado ainda corre para votar emendas que abra ainda mais o mercado do pré-sal para companhias estranheiras.
Sabendo das cartas postas à mesa, oposicionistas tentam chamar atenção de colegas que estão em cima do muro para o outro lado da moeda, o futuro político. O ano que vem é de eleições, e não se sabe ainda em que medida o eleitorado vai também cobrar a fatura, já que da classe média para baixo todos estão sentindo na pele os efeitos do golpe.
Por esses fatores, a CCJ desta quarta-feira terá batalha política e regimental, com direito a discussões, apresentação votos em separado (cinco já estão protocolados na comissão, e oposicionistas prometem apresentar outros), requerimentos e questões de ordem. Tudo faz parte das prerrogativas ao alcance da oposição antes da votação do relatório do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG).
Fonte: Rede Brasil Atual