#Notícias | 10/02/2020
O documentário Indústria Americana (American Factory) foi o grande vencedor da categoria de melhor documentário do Oscar 2020, realizado neste domingo (9). Entre os concorrentes do longa vitorioso estava o brasileiro Democracia em Vertigem, dirigido por Petra Costa.
Ao receber a estatueta, a codiretora do documentário vencedor, Julia Reichert, fez um discurso político. “Nosso filme é de Ohio, mas também da China, e poderia ser de qualquer lugar onde as pessoas vestem um uniforme e vão trabalhar para trazer uma vida melhor para sua família. Trabalhadores e operários têm uma vida cada vez mais difícil. E nós acreditamos que a vida vai melhorar quando os trabalhadores do mundo se unirem”, afirmou no palco da cerimônia.
Por sua vez, a comitiva brasileira no Oscar fez uma manifestação no saguão da cerimônia. Petra Costa mostrou um cartaz em defesa da Amazônia, a líder indígena Sonia Guajajara levou a pauta indígena para a Califórnia e outros integrantes da equipe do documentário também marcaram os 697 dias de impunidade no caso Marielle Franco.
Mesmo sem ter levado a estatueta, Democracia em Vertigem ganhou grande repercussão com a indicação, despertando paixões e expondo, ainda mais, a polarização que vive hoje o país.
O longa de Petra Costa, que concorreu na categoria, faz um relato pessoal costurado com acontecimentos políticos do Brasil desde a redemocratização até o impeachment da presidenta Dilma Rousseff e a ascensão da figura de Jair Bolsonaro. O título chegou a entrar na lista de melhores filmes de 2019 do jornal estadunidense The New York Times.
Depois de ser indicado ao Oscar, em janeiro, o documentário passou a ser alvo de ataques e críticas, inclusive do governo de Jair Bolsonaro. Na semana passada, o perfil oficial da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da presidência no Twitter afirmou que Petra havia assumido o “papel de militante anti-Brasil e está difamando a imagem do país no exterior”.
Em resposta aos ataques institucionais contra a diretora, a ex-presidenta Dilma Rousseff declarou que Petra foi vítima de “intolerável agressão do governo Bolsonaro”.
“A Secom usa a máquina pública para incitar ódio contra uma artista. Mas Petra nos enche de orgulho. Por ser mulher, talentosa, representar o país no Oscar e ter feito um filme que desmascara o golpe do impeachment ilegal de 2016 que levou o Brasil ao desastre chamado Bolsonaro”, disse a ex-presidenta na ocasião.
Neste domingo, horas antes do início da cerimônia, o perfil oficial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma homenagem ao longa.
“Democracia em Vertigem é um documento histórico urgente e necessário para todos aqueles que ousam defender a verdade em tempos de pregação da mentira. Hoje, o filme de Petra Costa ganha o mundo, indicado na categoria de melhor documentário”, afirma o post.
Antes do início da premiação deste domingo, no chamado tapete vermelho, Petra Costa celebrou o fato de estar “representando o Brasil em 2020 nessa cerimônia em homenagem à cultura, que é o que faz as civilizações se curarem”. Ela elogiou a categoria de melhor documentário por ser a “mais de vanguarda” da academia, por conseguir paridade de gênero. “Temos quatro filmes dirigidos por mulheres [entre os indicados], e também quatro estrangeiros. Houve muito esforço para levar mais mulheres para esse braço da academia”, afirmou ao G1.
Apresentando o prêmio de documentário em longa-metragem, o ator Mark Ruffalo também destacou o fato de que quatro títulos na categoria foram dirigidos ou codirigidos por mulheres.
Os vencedores do Oscar 2020 foram:
Filme
‘Parasita’, de Bong Joon-ho
Direção
Bong Joon-ho, por ‘Parasita’
Atriz
Renée Zellweger, por ‘Judy’
Ator
Joaquin Phoenix, por ‘Coringa’
Filme internacional
‘Parasita’, de Bong Joon-ho (Coreia do Sul)
Documentário
‘Indústria Americana’, de Steven Bognar, Julia Reichert e Jeff Reichert
Animação
‘Toy Story 4’, de Josh Cooley, Mark Nielsen e Jonas Rivera
Atriz coadjuvante
Laura Dern, por ‘História de um Casamento’
Ator coadjuvante
Brad Pitt, por ‘Era uma Vez em… Hollywood’
Roteiro original
‘Parasita’
Roteiro adaptado
‘Jojo Rabbit’
Direção de fotografia
‘1917’
Direção de arte
‘Era uma Vez em… Hollywood’
Montagem
‘Ford vs. Ferrari’
Edição de som
‘Ford vs. Ferrari’
Mixagem de som
‘1917’
Efeitos visuais
‘1917’
Trilha sonora
‘Coringa’
Canção original
‘I’m Gonna Love Me Again’, de Elton John e Bernie Taupin (‘Rocketman’)
Figurino
‘Adoráveis Mulheres’
Cabelo e maquiagem
‘O Escândalo’
Curta-metragem
‘The Neighbors’ Window’, de Marshall Curry
Curta-metragem documental
‘Learning to Skateboard in a Warzone (If You’re a Girl)’, de Carol Dysinger e Elena Andreicheva
Curta de animação
‘Hair Love’, de Matthew A. Cherry e Karen Rupert Toliver
Fonte: RBA (com reportagens do Brasil de Fato e da Folha de S.Paulo)