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#Destaques | 27/12/2018

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Na análise dos especialistas em relações internacionais, Celso Amorim e Gilberto Maringoni, a política externa brasileira, sob o comando de Michel Temer (MDB), encerra um mandato com um papel pouco relevante no mundo. O ex-ministro da Defesa e ex-chanceler, ao lado do professor da área na Universidade Federal do ABC, conversaram com os jornalistas Rafael Garcia e Walter Venturini, da Rádio Brasil Atual, sobre a falta de integração com outros países da América do Sul e a perda de soberania do Brasil pelos interesses de outras nações, entre outros temas.

 

Se o momento vivido pelo país após o golpe que alçou Temer ao poder abalou a imagem do Brasil no mundo, a chegada do futuro governo de Jair Bolsonaro (PSL), leva a uma “perspectiva muito mais negativa”. O ex-ministro Amorim e o professor Maringoni, autor do livro Venezuela que se inventa: poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez, observam que a postura do futuro governo aponta para uma “conspiração” que afirmará o Brasil como um “subordinado” dos Estados Unidos.

 

Acompanhe os principais trechos do debate

 

 

Dois anos de Temer e política externa

 

“Nos seus melhores momentos a política externa do Temer cumpriu tabela: fez zero a zero. E, nos piores momentos, fez coisas muito erradas como as ações para isolamento da Venezuela, que é uma coisa desastrosa e o oposto do que sempre se fez, não só no governo Lula, mas o governo de Fernando Henrique Cardoso foi contra o golpe de 2002 (que tentou derrubar o governo de Hugo Chávez). O Brasil sempre tentou atuar como mediador e não como facilitador de conflitos”, afirma Celso Amorim, que foi também diplomata durante o governo de FHC (1995-2003).

 

“O Brasil perde espaço e ataca esse espaço aqui na América do Sul, o que é muito preocupante. A eventual implosão da União de Nações Sul-Americanas (Unasur) é um caso gravíssimo, o fato de impedir que a Venezuela assumisse a presidência rotativa do Mercosul (…) A perda de importância que o Brasil tem no mundo é expressada por essa cena final que é o cancelamento abrupto de uma visita, de uma missão ao Egito há poucas semanas, chefiada por Aloysio Nunes.

 

É melancólica o fim dessa política externa”, destaca Maringoni. “Claro que o cancelamento não se deve a diplomacia do governo Temer, se deve ao que o Bolsonaro saiu falando, mas a cerimônia, com todo o respeito ao Egito, mas é um país menor, de uma importância menor que a do Brasil, mas com toda uma história milenar, só que o Brasil é uma das dez economias mundiais. Ele (Egito) bloqueia uma das dez maiores economias mundiais de uma visita programada há tempos.”

 

Alinhamento com EUA e Israel

 

“Não se trata de como o Bolsonaro falou, semanas atrás, de uma ‘mudança de capital’, como foi do Rio de Janeiro para Brasília. Não é uma questão geográfica e operacional, é uma imposição política diante de povos com os quais Israel tem um contencioso há 70 anos. Tanto que o apoio internacional é mínimo, quem apoia isso é o governo do Trump, o da Guatemala, que funciona quase como um satélite do governo americano, e o terceiro governo a apoiar isso, seria o governo Bolsonaro. Isso causará problemas com vários países árabes, como causou já com o Egito. É o Brasil se imiscuir em uma questão que, embora local, tem uma repercussão regional extremamente pesada. Parece-me muito mais que o Brasil não está apoiando uma demanda israelense, querendo se colar, como aliás o filho de Bolsonaro, o Eduardo Bolsonaro, quer fazer crer, ao Departamento de Estado (dos EUA), à Casa Branca, numa insubordinação quase que caricata (…) No caso de Jair Bolsonaro, ele mostra que está conspirando”, avalia o professor da UFABC.

 

“Esse é um caso tipicamente ideológico, porque não há nenhuma razão, nenhum beneficio, que o Brasil possa supostamente escolher, a não ser, digamos, a gratidão, que nunca vem, porque superpotência nunca é grata, aproveita enquanto o subserviente está fazendo o que ela quer, depois ela esquece. Ou você acha que os Estados Unidos vão deixar, por exemplo, de vender soja para China, agora que deram aquela trégua, porque ‘ah, não, mas tem a soja brasileira e o Bolsonaro é nosso aliado’? Ninguém nasceu ontem. O Brasil não vai ganhar absolutamente nada (com a transferência de embaixada), é apenas uma demonstração de servilismo em relação aos Estados Unidos”, afirma Amorim.

 

Uso comercial da Base de Alcântara

 

“Eu temo. Acho que é preciso um olhar vigilante entre aqueles que têm a preocupação com a soberania nacional e acredito que há muitos militares com essa opinião, para impedir que isso ocorra. Acho difícil que isso acontecesse, mesmo que haja essa intenção, eu quero crer que haverá resistência por parte dos militares”, diz Celso Amorim.

 

“Por que o interesse em Alcântara? Por uma questão de lançamento de satélites, de aproveitamento da rotatividade. A busca por regiões próximas (à Linha) do Equador fazem de Alcântara (no litoral do Maranhão) o melhor lugar geográfico para isso. Existe esse interesse, que eu espero que não se concretize. É uma afronta à soberania que outro país tenha base aqui dentro. O céu, ou o inferno, será o limite”, examina Maringoni em referência a fala do futuro chanceler, Ernesto Araújo, sobre o “céu” ser o limite para a relação do Brasil com os Estados Unidos.

 

Prisão de Lula e o papel da ONU

 

“Houve todo um sistema para diminuir a importância da ONU, depois dizer que era uma recomendação, argumentos não procedentes. O objetivo era impedir que Lula fosse candidato, conseguiram, então pode ser que uma decisão da ONU afirmando que a prisão de Lula teve questões de injustiças, se o Brasil não cumprir, mais uma vez, é melhor sair do tratado (…) Juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) sempre defenderam a prevalência dos tratados internacionais sobre a legislação, ainda mais sobre com normas dos direitos humanos, porque têm um papel civilizatório”, aponta Celso Amorim.

 

“Com a prisão de Lula, o Brasil está virando um grande laboratório internacional do chamado lawfare, em que tem uma atuação da justiça sobre o mundo da política. Não é só porque é o Lula em si, mas porque ele é a ponta de lança de um movimento democrática brasileiro que tem pelo menos 40 anos, que começou na luta contra a ditadura. (…) A gente só vai construir uma democracia descente, digna desse nome, quando a gente der peso exato ao que é justiça e ao que é atuação judicial”, explica Maringoni.

 

Fonte: Rede Brasil Atual

 

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Publicado em:27/12/2018

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