#Destaques | 21/03/2016
“Sou brasileiro, é pra valer, não vou deixar este golpe acontecer”. Esse grito e o já tradicional “não vai ter golpe, vai ter luta” foram os mais entoados por mais de 50 mil pessoas que tomaram as ruas do centro de Porto Alegre no fim da tarde de sexta-feira, dia 18, em defesa da democracia, dos direitos sociais e trabalhistas, do mandato legítimo da presidenta Dilma Rousseff (PT) e contra o golpe do impeachment.
O ato público ocorreu na Esquina Democrática, que ficou pequena para acolher tantos homens e mulheres que vieram da capital e do interior gaúcho para levantar a voz contra os golpistas.
A atividade foi organizada pela Frente Brasil Popular, Frente Povo sem Medo e Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS). Após a manifestação, os participantes saíram em caminhada pela Avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares.
“A nossa luta é todo dia, não vai ter golpe, vai ter mais democracia”, “não vai passar, não passarão, não vão rasgar a nossa Constituição”, “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” e “a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura” foram os principais gritos dos manifestantes criticando setores do Judiciário e da mídia, especialmente a Rede Globo e sua afiliada RBS. Uma das maiores faixas do ato continha os dizeres “mídia golpista”, com o símbolo da Rede Globo no lugar da letra “o”.
Não faltaram bandeiras da CUT e da CTB, bem como do PT e PCdoB, além do Movimento dos Sem Terra (MST), dos movimentos de mulheres e LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais), dentre outros.
A manifestação ocupou a esquina da Rua dos Andradas com a Borges de Medeiros, chegou às ruas Andrade Neves e Sete de Setembro. Havia ainda cartazes com dizeres como “o golpe veste toga”, em alusão ao poder Judiciário, “Lula, vale à luta”, “Dilma fica”, além de pessoas com camisetas em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS).
Defesa da democracia
A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) mencionou a união de causas em prol da democracia. Ela questionou: “tem muita mulher que combate o machismo aqui? Tem muita gente que combate o racismo, a homofobia?” As perguntas foram recebidas com gritos de saudação pelos participantes.
“Está lindo ver todas as cores que formam nosso país. Aqui temos homens e mulheres que lutam pelo nosso país, assim como lutaram durante a ditadura. Porque hoje pode sim fazer oposição, o que não pode é tentar chegar no poder na base do tapetão. Por isso, vai ter bandeira de partido sim, vai ter bandeira de movimento sim, porque nós somos uma democracia”, afirmou Manuela.
“A solução da crise é aceitar o resultado das eleições e deixar a Dilma governar”, concluiu a deputada.
O presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, atacou os golpistas e também defendeu a democracia. “Eu quero uma sociedade para todos. Mas a Globo e a burguesia querem uma sociedade para poucos”, criticou. Ele propôs a organização de comitês em defesa da democracia. ”Eles não passarão porque vamos ganhar a consciência do povo”, ressaltou Vanazzi.
Defesa dos direitos dos trabalhadores
A Globo foi criticada também pelo presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo. “Fora Rede Globo que o povo não é bobo”, disse. “A Globo tem que respeitar o resultado da eleição, isso é democracia. E essa esquina é da democracia, por isso estamos aqui. Eles têm que ficar no Parcão mesmo, que é o lugar da elite”, apontou ele, em referência aos protestos pró-impeachment no Parque Moinhos de Vento, bairro nobre de Porto Alegre.
“Não vamos deixar que vocês (golpistas) deem um golpe num momento de fragilidade da economia”, avisou Claudir. “Nós sabemos qual é a agenda dos golpistas, os mesmos que consideram gastança o bolsa família, o Prouni e outros programas sociais. E por trás há ainda um ataque aos direitos dos trabalhadores”, alertou o presidente da CUT-RS. “Em todas as capitais pulsa hoje o sangue de quem tem a democracia como valor”, concluiu.
Para o presidente da CTB-RS, Guiomar Vidor, os que querem o golpe são os mesmos que querem “acabar com o bolsa família, com os programas sociais, com os direitos dos trabalhadores”.
Defesa do estado democrático de direito
O ex-governador Tarso Genro (PT) também criticou os que são a favor do impeachment, lembrando das agressões que ocorreram nos últimos dias a pessoas que usavam camisetas vermelhas ou que apoiaram a presidenta. “Vamos dar a eles uma aula de democracia, vamos mostrar que a gente resolve as controvérsias no debate político, nas eleições, na mobilização, não na agressão.”
“Me lembro de 64, tinha 17 anos e ocupamos uma rádio e dissemos: acorda santa-mariense que o golpe vai te pegar na cama”, recordou Tarso. “O povo estava desprevenido, apesar da forte organização dos trabalhadores. Hoje, as Forças Armadas estão cuidando das instituições e o golpe foi transferido para um setor do judiciário e para a mídia golpista e oligopolista”, explicou.
Para o ex-governador, “eles querem desmoralizar Lula para atingir a memória dos trabalhadores. Não querem abater apenas o Lula, mas a estima do povo brasileiro.
“Estamos defendendo o Estado democrático de direito, a presunção da inocência, e não aceitamos ser massacrados por essa mídia golpista. Não se conquista a democracia com a proteção do [Eduardo] Cunha, do Aécio [Neves], dos corruptos e dos outros que estão atrás desse processo de impeachment”, apontou, em referência ao presidente da Câmara dos Deputados e ao senador do PSDB, ambos investigados por corrupção.
“Vamos semear contra o fascismo e dizer não ao ódio sectário que acaba com o respeito nas famílias e entre vizinhos. Esse ódio pode amanhã se voltar contra eles”, alertou Tarso.
Para o sociólogo paulista Emir Sader, que participou do ato na capital gaúcha, “eles perderam e por isso estão apavorados. Estamos começando a mudar a história do Brasil”.
População é contra o golpe
Destacaram-se no ato também inúmeros manifestantes, que não são militantes partidários, mas decidiram ir apoiar a democracia, como é o caso da estudante de Design de Produto da UFRGS Gabrielle Tosi. “Eu estava em dúvida se deveria vir, porque não queria necessariamente defender o PT em si. Mas decidi vir porque sou contra o golpe”, afirmou.
O casal Juliana e Vinícius, pedagoga e técnico de operações, também foram ao ato para defender a democracia. Ela conta que votou em Dilma e acredita que o impeachment não seja a melhor saída. “Há um juiz que está tomado por vaidade. E a gente percebe que o Congresso não nos representa, a Câmara não está do nosso lado. O Executivo tenta barrar determinados projetos, mas enfrenta resistência”, avaliou ele.
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Por volta das 19h, ao som de “Pra não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, os manifestantes saíram em caminhada. “Vem, vamos embora, que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”, cantavam em uníssono, em contraste à euforia e à agitação de minutos antes.
A música, que foi censurada, mas virou hino da resistência na ditadura, foi seguida por gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta” e “nem a Globo, nem a CIA, vão vencer a democracia”, os quais continuaram durante toda a marcha pela Borges de Medeiros.
Fonte: CUT-RS