#Notícias | 10/07/2015
Diante de impasses nas negociações, mobilizações devem se intensificar nas próximas semanas
Trabalhadores e trabalhadoras da AGCO, em Canoas, cruzaram os braços na manhã desta sexta-feira, 10. Em uma assembleia que durou quase três horas, dirigentes e lideranças sindicais abordaram a situação político econômica do país, projetos que tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e que visam retirar direitos, além de trazer as últimas informações sobre a Campanha Salarial da categoria.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita, Paulo Chitolina, apresentou aos trabalhadores a proposta feita pela mesa patronal na penúltima reunião, e reafirmada na última, de parcelar a inflação (8,34%) em duas vezes, sendo a primeira parte em Julho/2015 e a segunda somente em Janeiro/2016. Segundo o presidente, antes mesmo de dialogar com os trabalhadores, o sindicato recusou o acordo, visto que desde o início da campanha deixou clara a posição de que a reposição da inflação no salário é um direito adquirido.
O secretário geral do sindicato e administrativo da Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, Flávio de Souza, lembrou que a luta é para repor as perdas inflacionárias acumuladas desde Maio/2014 até o momento. “Estas perdas devem ser repostas no salário dos trabalhadores sem nenhuma discussão, muito menos parceladas.”. O dirigente ainda falou sobre a tentativa da AGCO em expandir a empresa na cidade de Canoas. “A AGCO foi na prefeitura pedir liberação para expandir o pátio da empresa na cidade, mas hoje reclama que vive uma crise e que não pode dar um reajuste digno aos trabalhadores que tocam a produção e geram os lucros aqui dentro.”.
Sindicatos da região, como São Leopoldo e Novo Hamburgo, também puderam abordar as negociações nas respectivas cidades. O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Leopoldo, Valmir Lodi, relatou que desde o início do ano a entidade enfrenta uma luta contra os pelegos de oposição que vão para a porta das fábricas fazer a cabeça dos trabalhadores. Com data base em julho, o sindicato negocia o dissídio e também enfrenta proposta desrespeitosas da mesa patronal, como por exemplo, quando um dos patrões aceitou fazer um acordo, desde que fosse liberado para fazer demissões dentro da fábrica sem a intervenção do Sindicato. Lodi ainda lembrou que os metalúrgicos de São Leopoldo estão em apoiam à greve dos municipários na cidade: “Este é o momento de todos os trabalhadores se unirem, independente da categoria.”.
Pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Novo Hamburgo, o presidente Lauro Amaral reforçou a organização dos sindicatos na campanha salarial. “Os Sindicatos colocaram suas pautas desde abril e o que nós vemos hoje é uma mesa patronal que dá as costas para os trabalhadores.”. O presidente também ressaltou que além de enfrentar o impasse das negociações do dissídio e o risco de não conseguir se quer a inflação, os trabalhadores são assombrados pela terceirização, que é tema constante da campanha deste ano.
CNM e Federação na luta com o sindicato
Para reforçar a luta e as informações da campanha salarial, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM) e a Federação dos Metalúrgicos do Rio Grande do Sul (FTMRS) marcaram presença na assembleia desta sexta-feira. O secretário de política sindical da CNM, Loricardo Oliveira, traçou um panorama político econômico do país nos últimos 12 anos. “Todos os anos são difíceis para negociações, mas não podemos esquecer que desde o governo Lula os empresários ganharam incentivos e desonerações que aceleraram a produção nacional em diversos setores e geraram lucros.”. “Com isso, não podemos aceitar que em um momento de crise, este acúmulo não seja utilizado para valorizar quem produz a riqueza deste país, que são os trabalhadores.”.
Apresentando fatos do cenário nacional das negociações, o secretário da CNM citou casos como o da Bahia, que mesmo diante da mudança de uma grande empresa para Aracaju, fechou acordo com aumento real a partir da data base. Outra situação ocorreu com os metalúrgicos de Santa Catarina, que também fecharam acordo com a inflação a partir da data base. Loricardo reforçou que a base de Canoas e Nova Santa Rita é essencial na campanha dos metalúrgicos do Estado do Rio Grande do Sul e por isso os trabalhadores deveriam ter paciência diante das negociações e das mobilizações realizadas pela entidade.
O presidente da FTMRS, Jairo Carneiro, abordou as discussões em torno da redução da maioridade penal. Para Carneiro, a redução é mais um golpe disfarçado contra a classe trabalhadora. “Se aprovada a redução, serão os nossos filhos que irão para dentro das prisões. Serão os filhos dos operários, os negros, a juventude carente que ficará atrás das grades, não os jovens das classes mais favorecidas.”. Como exemplo, o presidente da federação citou a postura da polícia que só realiza abordagens em vilas, enquanto muitas escolas, que são frequentadas por estudantes com maior aquisição financeira, também são palco do tráfico e da marginalidade.
Dentro da campanha salarial, Carneiro lembrou que a Câmara dos Deputados, presidida pelo conservador Eduardo Cunha, realizou manobra para aprovar o financiamento de campanha. Este tema possui grande ligação com a campanha, pois muitas empresas que hoje alegam crise e se negam a conceder um reajuste real aos trabalhadores, investem fortunas em campanhas políticas. “Hoje, eles reclamam que não tem dinheiro para o acordo, mas para bancar os políticos sempre tem”.
Jairo Carneiro alertou os trabalhadores sobre as manobras que políticos e empresários estão traçando para retirar direitos, como a terceirização, que visa acabar com a CLT e os direitos adquiridos em anos de luta sindical. “Temos que fazer uma escolha, companheiros e o Sindicato é uma das armas dos trabalhadores. Temos que estar juntos nessa.”
Fonte: Rita Garrido / STIMMMEC